A fabricante Airbus anunciou nesta quinta-feira o fim da produção do A380, o emblemático avião gigante com capacidade para até 850 passageiros e em serviço desde 2007, uma vítima da falta de pedidos.
Os últimos exemplares do modelo serão entregues em 2021.
Abandonado pelas principais companhias aéreas, o programa A380 havia sido mantido graças a uma redução da produção, que passou de 27 aeronaves em 2015 a uma por mês em 2018.
No ano passado, a principal cliente do A380, a companhia Emirates deu um pouco de oxigênio ao projeto com um pedido de 36 aviões, mas o auxílio durou pouco.
Há alguns dias, a Emirates suspendeu o pedido de 39 exemplares do A380.
"Após uma revisão de suas operações, a Emirates reduzirá seus pedidos de A380 em 39 aviões, o que significa que restam 14 A380 na pasta de pedidos a entregar à Emirates. Como consequência desta decisão, e por falta de pedidos de outras companhias, as entregas do A380 serão interrompidas em 2021", anunciou o presidente da Airbus, Tomas Enders.
O "Super Jumbo" da Airbus não resistiu à concorrência dos novos aviões com dois motores de longa distância, como o 787 da Boeing.
Para competir com o 787, a Airbus lançou o A350, mais rentável.
O preço de catálogo do A380 é de 445,6 milhões de dólares.
Após um acordo com a Airbus, a Emirates substituiu o pedido cancelado de 39 A380 pela compra de 40 exemplares do A330neo e 30 A350, por 21,4 bilhões de dólares.
"A Emirates apoiou o A380 desde o primeiro momento", afirmou o xeque Ahmed ben Said Al Maktum, presidente da companhia do Golfo, citado em um comunicado que confirma a entrega de 14 aeronaves até 2021.
"O avião continuará sendo um pilar da frota da Emirates", completou.
A companhia aérea transformou o A380 em um símbolo de luxo, com cabines privadas com ducha e um salão com bar.
Em sua trajetória, a Airbus recebeu 321 pedidos de A380, 178 deles da Emirates.
A empresa aeronáutica informou que iniciará negociações com os sindicatos para determinar o futuro dos 3.000 a 3.500 postos de trabalho que podem ser afetados por esta decisão nos próximos três anos.
A Airbus confia que a produção do A320 e o novo pedido da Emirates permitirão suavizar o impacto.
Também nesta quinta-feira, a Airbus anunciou um lucro líquido em 2018 de 3,054 bilhões de euros, uma alta de 29%, dentro da meta da empresa.
O faturamento foi de EUR 63,707 bilhões, um crescimento de 8%.
A Airbus prevê a entrega em 2019 de 880 a 890 aviões comerciais, segundo um comunicado.
"Apesar de 2018 ter apresentado uma série de desafios, cumprimos nossos compromissos e alcançamos uma rentabilidade recorde graças a um sólido rendimento operacional, em especial no quarto trimestre", afirmou Tom Enders.
A Airbus, no entanto, anunciou uma reserva de 436 milhões de euros para este ano, relacionada ao programa do avião de transporte militar A400M.
Em 2017 a empresa fez uma reserva de 1,3 bilhão de euros pelo mesmo motivo e em 2017 de EUR 2,2 bilhões.
Um gigante no ar
O A380 era o carro-chefe da fabricante europeia de aviões, concebido como o sucessor do lendário 747 da rival americana Boeing, mas o "Super Jumbo" teve o seu sucesso ofuscado por aeronaves que percorrem menores distância, mas são mais rentáveis.
Maior que um 747, o A380 entrou em serviço em 2007, podendo transportar de 575 a 850 passageiros, graças aos 550 m2 de sua cabine.
O avião pode pesar até 578 toneladas quando totalmente carregado para a decolagem, e tem um alcance de 15.200 quilômetros (9.400 milhas).
É o que produz a menor emissão de CO2 por passageiro por quilômetro.
O A380 oferece o melhor custo por assento do mercado se estiver 100% cheio, de acordo com Sébastien Maire, especialista em aeronáutica da Kea & Partners.
O maior avião de passageiros do mundo, com 232 aeronaves em operação, possibilita a substituição de duas aeronaves com custos operacionais 20% inferiores aos de um Boeing 747.
Mas, para isso, é necessário que esteja lotado, o que está longe de ser o caso em muitas rotas, apesar do congestionamento de aeroportos como Londres ou Los Angeles.
Dado o crescimento do tráfego aéreo, que dobra a cada 15 anos, a Airbus apostava que o A380 acabaria vencendo.
Mas a carteira de encomendas foi limitada e a fabricante europeia foi forçada a diminuir a taxa de produção da aeronave para estender seu ciclo.
Passou, assim, para uma produção de um exemplar por mês em 2018, em comparação com um total de 27 durante todo o ano de 2015. Em 2020, o ritmo deveria baixar para seis aviões por ano.
Programa deficitário
Para reduzir os encargos financeiros, com custos de desenvolvimento de mais de US$ 18 bilhões, a Airbus trabalhou muito para melhorar a produtividade.
A fabricante de aeronaves começou a ganhar dinheiro com cada aeronave entregue em 2015, mas o programa mergulhou no vermelho em 2018.
O A380 devia sua salvação à companhia Emirates.
Ao finalmente decidir reduzir suas encomendas, a companhia do Golfo esfriou as expectativas de sobrevivência da aeronave.
Para preservar o futuro de seu gigante, a Airbus também contava com a China, que deveria destronar os Estados Unidos em 2022 como o maior mercado global de transporte aéreo. Mas essa esperança também fracassou.
Porque o A380 sofre de seu gigantismo: o tamanho é seu calcanhar de Aquiles. Faz com que potenciais clientes temam sua rentabilidade, enquanto o preço de compra de um A380 é de US$ 445,6 milhões ao preço de tabela.
Especialmente porque a aeronave não pode pousar em qualquer lugar: com seus dois decks, requer instalações aeroportuárias específicas para embarque e desembarque de passageiros.
São, portanto, os aviões de menor capacidade de distância, como o Boeing 777 ou o Airbus A350, birreatores feitos de materiais compósitos mais econômicos em termos de combustível, que derrotaram o gigante de quatro turbinas, garantindo o sucesso de viagens ponto a ponto, em detrimento dos "hubs".
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