Deasahni Bernard, de 21 anos, aperta um botão e entra em uma área onde se deslocam centenas de robôs transportadores. Eles movem, segundo um circuito definido por computadores, grandes armários amarelos que contêm milhares de artigos comprados pela Amazon, líder de vendas na internet.
É o novo centro de processamento de pedidos que a Amazon abriu em setembro em Staten Island, Nova York.
Sobre uma superfície de 80.000 m², com o som de quilômetros de esteiras, o gigante de Seattle - uma referência no campo em pleno auge dos robôs capazes de colaborar com humanos - implementou sua robótica mais avançada.
O colete tecnológico ou "tech vest" que Bernard usa é parte dessa implementação. Utilizado nos depósitos da Amazon desde o fim de 2018, permite entrar com segurança na área dos veículos robô, por exemplo, e recolher um objeto que caiu no chão ou examinar um robô avariado. Basta pressionar um botão e os robôs param ou reduzem a velocidade, reajustando sua rota para evitar o lugar onde o funcionário vai atuar.
A Amazon conta com mais de 25 centros automatizados que lhe permitiram reduzir para "menos de uma hora [as tarefas] que levavam mais de um dia" e economizar espaço de armazenamento, explica Tye Brady, chefe de tecnologia da Amazon Robotics, subsidiária de robôs da Amazon. E assim fortalecer a posição dominante da empresa no comércio eletrônico.
Para alguns, estes centros ilustram perfeitamente o risco de que em breve os humanos percam seus trabalhos, substituídos por máquinas inteligentes.
Mas Tye Brady defende "os exemplos formidáveis" de colaboração no trabalho entre humanos e robôs em Staten Island, um centro que funciona 22 horas por dia com mais de 2.000 funcionários.
Sob o olhar atento de Brady, Deasahni Bernard, que era caixa de um supermercado antes de entrar na Amazon, confirma: "Prefiro este trabalho do que todos os outros que tive até agora".
E o que estão fazendo os funcionários da Amazon nisto que Tye Brady chama de "sinfonia" homens-robôs?
Em Staten Island, além dos que usam o "tech vest", há os que desembalam os produtos e os classificam em armários, os que colocam nos armários os produtos destinados ao mesmo cliente, os que fazem as etiquetas... Tudo com a ajuda de telas e scanners que facilitam a escolha do produto ou da etiqueta e permitem rastrear os produtos continuamente.
- Eliminação de empregos "é um mito" -
Em cada etapa, o objetivo é "ampliar as capacidades das pessoas" para que possam focar na resolução de problemas", a fim de garantir a qualidade dos produtos e intervir se for necessário, explica Brady.
O engenheiro, que trabalhou no desenvolvimento de sistemas robóticos para astronautas, está convencido de que a implementação de robôs "colaborativos" é a chave da produtividade, do crescimento e dos empregos do futuro.
Desde que a Amazon se lançou de cheio na robótica com a compra do fabricante de robôs de logística Kiva em 2012, contratou 300.000 pessoas, chegando à cifra atual de 645.000 funcionários no mundo.
Para Brady, de 51 anos, "é um mito que a robótica e a automatização eliminam empregos".
"Os dados são indiscutíveis: quanto mais robôs adicionamos a nossos centros de pedidos, mais postos criamos", acrescenta, sem mencionar os empregos perdidos nas lojas tradicionais.
Apesar do entusiasmo de Brady, abundam os críticos da Amazon, como ficou evidente com a polêmica em torno ao estabelecimento de uma nova sede em Nova York, uma ideia finalmente descartada pela companhia.
E o rechaço da Amazon a qualquer representação sindical alimenta a suspeita.
Em uma coletiva de imprensa oferecida pela União Americana de Funcionários do Comércio no início de janeiro, um funcionário do Centro de Staten Island, Rashad Long, denunciou ritmos insustentáveis a longo prazo. "Não somos robôs, somos humanos", acrescentou.
Muitos suspeitam que a companhia, fundada em 1995 por Jeff Bezos, investiu em robótica para automatizar, eventualmente, muitos postos hoje ocupados por humanos, de modo a aumentar seus lucros.