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Estado de Minas

Microplásticos são detectados até nas entranhas de minicrustáceos


postado em 27/02/2019 11:50

Uma equipe de pesquisadores encontrou pela primeira vez microplásticos nas entranhas de minicrustáceos que vivem a 11 km de profundidade, o que demonstra que nenhum ecossistema marinho consegue se livrar dese tipo de contaminação.

Os autores do estudo publicado nesta quarta-feira na revista Royal Society Open Science dissecaram 90 exemplares de anfípodes lisinásidos, uma espécie de camarão minúsculo, que foram recolhidos no fundo de seis das mais profundas fossas oceânicas localizados ao redor do Pacífico.

Nylon, polietileno, PVC, seda sintética... No total, 65 espécimes, ou seja, mais de 72%, continham pelo menos uma micropartícula.

E a poluição diz respeito a todos os lugares explorados: de um mínimo de 50% dos espécimes coletados a cerca de 7.000 metros de profundidade no poço das Novas Hébridas de Vanuatu, até 100% a quase 11.000 metros na fossa das Marianas, a leste das Filipinas, a mais profunda conhecida.

"Esperava encontrar alguma coisa, mas não que em 100% dos espécimes do locais mais profundo do mundo encontraríamos fibras em suas entranhas. É enorme", disse à AFP Alan Jamieson, um pesquisador em ecologia marinha da Universidade de Newcastle da Grã-Bretanha.

O cientista, especialista em exploração submarina que descobriu vários tipos de abismos, geralmente não estuda a contaminação do plástico.

Mas sua equipe tinha a disposição anfípodos de várias espécies da família dos lisianásidos coletados entre 2008 e 2017 por meio de armadilhas colocadas no fundo dos oceanos por veículos submarinos.

Decidiram, então, explorar esta coleção incomparável para contribuir com o atual debate sobre o assunto.

- Como engolir uma corda de dois metros -

A cada ano são produzidos mais de 300 milhões de toneladas de plástico, dos quais uma parte acaba nos oceanos.

De acordo com estimativas científicas, cerca de 5 bilhões de peças de plástico pesando mais de 250.000 toneladas flutuam na superfície, um material que eventualmente se degradará em micropartículas que afundarão no fundo do mar.

Estudos anteriores haviam mostrado a presença de microplásticos nos sedimentos marinhos a quase 7.000 metros perto da fossa das Curilas-Kamchatka e nos organismos que vivem a 2.200 metros de profundidade no Atlântico Norte. Mas a maioria dos estudos se concentra na superfície.

"É hora de aceitar que as micropartículas de plástico estão por toda parte", lamenta Alan Jamieson.

Algumas das fossas nas quais os espécimes estudados viviam estão separadas por vários milhares de quilômetros.

E a contaminação não é nova, já que as primeiras amostras remontam a 2008.

O impacto da ingestão de micropartículas por esses organismos que estão no início da cadeia alimentar no abismo é desconhecido. Mas o risco de obstrução é evidente.

"É como se você engolisse uma corda de polipropileno de 2 metros e não esperasse nenhum impacto na sua saúde", diz o pesquisador, que também destaca o risco de contaminação química.

Uma vez dentro da cadeia alimentar, "há uma grande probabilidade" de que um "círculo perpétuo" seja instalado, através do qual uma presa transfere os microplásticos para o seu predador.

A ONU e as ONGs declararam guerra ao plástico tentando primeiro pôr fim à cultura do descartável.

Mas limpar os oceanos de volumes gigantescos de lixo parece improvável.

E a perspectiva é ainda mais pessimista para o fundo do mar, onde as partículas decompostas acabarão por pousar.

"Nós acumulamos nosso lixo no lugar que menos conhecemos no mundo", alerta Jamieson.


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