Um tribunal argentino declarou inocente, nesta quinta-feira (28), o ex-presidente Carlos Menem da acusação de encobrir os autores do atentado contra o centro judaico AMIA em 1994, delito pelo qual condenou seu ex-chefe de Inteligência e um ex-juiz, entre outros ex-funcionários e cúmplices.
Os juízes emitiram sentenças de seis anos de prisão para o ex-magistrado responsável pelo caso, Juan Galeano, e de quatro anos para o ex-chefe de Inteligência do governo de Menem, Hugo Anzorreguy, por desviarem a investigação sobre o ataque, que deixou 85 mortos e 300 feridos.
"Sinto tranquilidade. Queríamos a verdade e que pagassem pelo que fizeram. Deve-se seguir investigando", disse, ao sair da corte, Jorge Burstein, de uma organização de familiares das vítimas.
A Argentina acusou ex-governantes iranianos pela bomba na Associação Mutual Israelita (AMIA), mas nunca conseguiu levá-los a julgamento. Suspeita-se, além disso, que tiveram uma poderosa conexão local, que ainda não foi identificada.
O encobrimento consistiu em pagar ao suposto vendedor da caminhonete-bomba, Carlos Telleldín, cerca de 400.000 dólares para que acusasse um grupo de policiais e em ordenar a liberdade dos primeiros acusados.
A chamada "pista spiria" apontava a princípio para a família Kanoore, amiga dos Menem, ambos descendentes de sírios, e à família Haddad, de origem libanesa, que comprava no mercado explosivo amonal, como o utilizado para detonar a AMIA.
"Está aliviado.
Outro atentado havia sido cometido em 1992 contra a embaixada israelense, deixando 29 mortos e 200 feridos, que permanece impune.
- Irã na mira -
O maior atentado da história da Argentina também continua impune. O Irã sempre se recusou a que seus ex-governantes, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani, fossem interrogados.
Dois ex-policiais foram sentenciados a 3 anos de prisão e dois ex-procuradores, a 2 anos, enquanto Telleldín deverá cumprir 3 anos e 6 meses preso. Sua esposa, Ana Boragni, foi condenada a dois anos.
Junto com Menem, presidente argentino entre 1989 e 1999, foram absolvidos o ex-líder da associação judaica Rubén Beraja, um advogado e dois ex-membros dos serviços de segurança.
Organizações de familiares das vítimas foram demandantes e condenaram o acobertamento, em um enfrentamento com autoridades da organização.
Adriana Reisfeld, presidente da Memória Ativa, havia antecipado à AFP que eram aguardadas condenações para os 13 acusados. Sua irmã, Noemi, morreu no ataque, aos 36 anos.
- Menem no banco dos réus -
A promotoria havia pedido quatro anos de prisão para Menem, hoje senador de 88 anos, que tem direito ao foro privilegiado.
O ex-presidente tinha declarado que contava com informação secreta que não podia revelar.
"Tratam-se de razões de Estado que podem afetar o governo atual, os interesses da nação e a convivência pacífica com outras nações", disse seu advogado em 2016.
Não foi o primeiro processo contra o ex-presidente. Em 2013, Menem foi condenado a sete anos e meio de prisão por contrabando de armas à Croácia e ao Equador, embora depois a Justiça o tenha absolvido por "se exceder nos prazos razoáveis" para provar o delito.
Em 2015, foi sentenciado a quatro anos e meio de prisão por pagamento de "extras" (sem declarar) a altos funcionários.
- "Misérias" -
Em sua defesa, o ex-juiz Galeano afirmou que "a investigação da AMIA foi vítima da miséria interna dos serviços de Inteligência e segurança".
Em 2004, após quase uma década na prisão, os policiais acusados falsamente e Telleldín foram absolvidos por um tribunal que anulou a causa que Galeano julgada por causa de irregularidades.
Outra ação por acobertamento foi aberta em 2017 contra a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), por impulsionar no Congresso um acordo com o Irã para julgar os iranianos em um país neutro. O acordo nunca se cumpriu.
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