A Califórnia foi uma pedra no sapato do presidente Donald Trump, ao desafiar cada passo que deu desde que assumiu o governo.
O estado controlado pelos democratas, o mais rico e populoso do país, não se cansa de questionar, inclusive na Justiça, as políticas adotadas pelo governo conservador em temas como imigração, aborto e aquecimento global.
Agora, prepara-se para desempenhar um papel mais importante na eleição de 2020, ao antecipar suas primárias o máximo possível para escolher, entre outros nomes, seu candidato à presidência.
As prévias serão em 3 de março, a data mais cedo disponível. Antes, acontecia em junho, quando as indicações de cada partido estavam praticamente definidas.
"Aqueles que tomaram a decisão na Califórnia de mudar a data, viram isso como uma forma de elevar esse estado que se manteve à frente da resistência a alguns dos projetos do governo Trump", disse à AFP Josh Putnam, professor do Departamento de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de North Carolina-Wilmington.
"Isso porá os eleitores da Califórnia em uma posição de enfrentamento com o governo de Trump desde cedo, pelo menos ao escolher quem, possivelmente, vai enfrentá-lo em novembro de 2020 na eleição geral", acrescentou.
A Califórnia se une, assim, a outros estados que realizam suas primárias nesta data conhecida como "Superterça".
- Tom da eleição -
Como a Califórnia conta com um sistema de voto antecipado, as cédulas serão enviadas para os eleitores 30 dias antes das primárias, coincidindo com a importante votação em Iowa, o estado que vota primeiro no processo de indicação.
"No passado, no momento em que os californianos votavam nas primárias, o indicado já estava identificado. Esse não será o caso em 2020", disse a fundadora e diretora do Latino Policy and Politics Initiative na Universidade da Califórnia-Los Angeles (UCLA), Sonja Díaz.
O resultado "influirá em quem será o candidato democrata", completou.
Outros oito estados, incluindo o Texas, o segundo estado mais populoso, terão suas primárias no mesmo dia que a Califórnia e os resultados vão estabelecer o tom da indicação na Convenção Nacional.
Especialistas concordam em que a mudança também pode ser favorável a qualquer pré-candidato desse estado, dando-lhes mais visibilidade na campanha.
Até agora, a senadora Kamala Harris, um ferrenha opositora a Trump, é a única californiana democrata a entrar na disputa.
Putnam advertiu, porém, que qualquer vantagem para os candidatos locais requer bons resultados em outros estados que votam antes: Iowa, New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul.
"Quando a Califórnia antecipou as primárias no passado, tendeu a amplificar o resultado desses primeiros estados", afirmou. "Suspeito que, desta vez, vai ser assim", completou.
- Impacto do voto latino -
Díaz considera que a mudança também terá um impacto no voto das minorias, lideradas pelos latinos.
"O eleitorado latino será crucial no êxito de qualquer candidato do lado democrata", afirmou.
"Vimos isso nas eleições de meio de mandato de 2018", quando a participação aumentou "consideravelmente".
Crítico de muitas das políticas e posturas da Califórnia, Trump buscará, de qualquer modo, recursos para sua campanha nesse estado que tem a quinta economia do mundo. Seus partidários já apresentam a eleição de 2020 como uma batalha contra a "californização" dos Estados Unidos.
O vice-governador do Texas, Dan Patrick, sugeriu a Trump recentemente usar como slogan de campanha: "Não vamos deixar que os democratas transformem os Estados Unidos na Califórnia".