O modus operandi e os aparentes motivos do ataque sangrento desta sexta-feira na Nova Zelândia podem ter a marca do extremista de direita norueguês Anders Behring Breivik, que parece ter inspirado muitos terrorista racistas e supremacistas ao redor do mundo.
Massacre em massa, vítimas representantes do multiculturalismo, um "manifesto" publicado no momento do massacre e justificando uma ideologia semelhante... O ataque de Christchurch, onde pelo menos 49 pessoas foram mortas em duas mesquitas, assemelham-se fortemente com os atentados cometidos por Breivik.
Em um documento de 73 páginas postado no Twitter antes do ataque, o atirador de Christchurch - um "violento terrorista extremista de direita" australiano, de acordo com o primeiro-ministro australiano Scott Morrison - diz que "foi realmente inspirado pelo Cavaleiro Justiceiro Breivik", usando uma fraseologia semelhante à do extremista norueguês.
"Tive apenas um breve contato com o Cavaleiro Justiceiro Breivik e recebi uma bênção para minha missão depois de entrar em contato com seus irmãos cavaleiros", escreveu ele.
Breivik matou 77 pessoas em 22 de julho de 2011, primeiro explodindo uma bomba perto da sede do governo em Oslo, e depois abrindo fogo contra uma acampamento da Juventude Trabalhista na ilha de Utøya.
Criticando suas vítimas por fazerem o leito do multiculturalismo, o extremista norueguês de 40 anos de idade também propagou um "manifesto" de mais de 1.500 páginas, nas quais convidou a seguir seu exemplo.
- Laços dolorosos -
O massacre de Christchurch fez a Noruega lembrar do episódio mais trágico de sua história pós-guerra.
"Evoca ligações dolorosas", reagiu a primeira-ministra Erna Solberg. "É muito pouco e muito tarde, mas vamos começar a falar seriamente sobre o terrorismo de extrema direita agora?", questionou Bjørn Ihler, um sobrevivente do tiroteio de Utøya, no Twitter.
Para Tore Bjørgo, diretor do Centro de Pesquisa sobre Extremismo da Universidade de Oslo, "claramente muitas das mesmas ideias estão por trás" das duas tragédias.
"A ideia de que a civilização europeia está ameaçada pela imigração em geral e pela imigração muçulmana em particular, e que é legítimo que alguns recorram à violência extrema para parar isso", explica à AFP.
Como Breivik antes dele, o assassino de Christchurch ousa em seu texto se comparar a Nelson Mandela, dizendo esperar receber um dia, como ele, o Prêmio Nobel da Paz.
"O manifesto é um pouco confuso, em muitos aspectos. E está fortemente centrado no que chama de genocídio dos brancos via imigração em massa", aponta o pesquisador sueco sobre terrorismo Magnus Ranstorp. "É a mesma terminologia que Breivik", disse à agência sueca TT.
- Correspondência controlada -
Cumprindo uma sentença de 21 anos que pode ser prolongada indefinidamente, Breivik - agora chamado de Fjotolf Hansen - é mantido em isolamento. Sua correspondência com o exterior é controlada de perto e, se necessário, bloqueada.
"Se uma correspondência é destinada a inspirar atos de violência, temos a possibilidade de pará-la", disse à AFP Espen Jambak, vice-diretor da prisão de segurança máxima de Skien (sul da Noruega), onde Breivik está preso.
"Acreditamos que temos um controle satisfatório", acrescentou.
Citado pelo jornal Verdens Gang, o advogado do extremista norueguês, Øystein Storrvik, acredita que, por causa dessas condições muito rígidas de detenção, "parece improvável que ele tenha tido contato" com o assassino de Christchurch.
Contato ou não, os ataques de Breivik já inspiraram outros extremistas no passado.
Em 22 de julho de 2016, cinco anos depois de Utøya, um jovem psicologicamente frágil, descrito como obcecado por Breivik, matou a tiros nove pessoas em um shopping em Munique, antes de cometer suicídio.
"Também houve projetos de atentados inspirados por Breivik e mais ou menos avançados na Polônia, na República Tcheca, na França e nos Estados Unidos", diz Tore Bjørgo, do Centro de Pesquisa sobre Extremismo.
Um efeito cascata que pode crescer com ataques bem-sucedidos.
"Este ataque foi claramente concebido para inspirar outros, tanto da extrema direita quanto de extremistas islâmicos", acredita Bjørn Ihler, sobrevivente de Utøya.
"O fato de ter sido filmado ao vivo é uma estratégia deliberada para torná-lo um elemento narrativo que pode ser usado por extremistas de todos os lados", concluiu.
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