A cineasta pioneira da Nouvelle Vague francesa, Agnès Varda, inspiradora de gerações de artistas, morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 90 anos.
"A diretora e artista Agnès Varda faleceu em casa esta noite em decorrência de um câncer, cercada por sua família e entes queridos", anunciou a família em um comunicado.
Mulher de fortes convicções, construiu uma obra original, muitas vezes pioneira, na fronteira entre o documentário e a ficção. Foi autora de "Cléo das 5 à 7" (1962), "Os Renegados" (1985), "Os catadores e eu" (2000), "As praias de Agnès" (2009) e "Visages, villages" (2017).
Premiada com um Leão de Ouro em Veneza em 1985 por "Os Renegados" e com um César de melhor documentário em 2009 por "As praias de Agnès", Agnès Varda deixa uma obra onírica, humanista, radical, mas também visionária e engraçada.
Na França, acumulou premiações: um César honorário em 2001 e uma Palma honorária no Festival de Cannes de 2015. Também recebeu um Oscar honorário em 2017 pelo conjunto de sua carreira.
"É uma grande dama do cinema e uma enorme dama que está nos deixando. Por 90 anos, ela acompanhou a história do cinema. Sempre estava muito à frente de todos. Foi a primeira para fazer filmes que influenciaram a Nouvelle Vague", reagiu à AFP o diretor Claude Lelouch.
Companheira do cineasta Jacques Demy de 1962 até sua morte em 1990, feminista comprometida, Agnès Varda, que liderou com a atriz Cate Blanchett uma marcha das mulheres pela igualdade no último Festival de Cannes, também era uma diretora engajada socialmente, muitas vezes concentrando o seu trabalho no destino dos excluídos.
Também fotógrafa e artista plástica, começou como diretora em 1954 com seu primeiro longa-metragem "La Pointe courte".
Seu último trabalho, o documentário "Varda por Agnès" foi apresentado em fevereiro no Festival de Berlim.
Neste filme introspectivo em duas partes em forma de lição de cinema e balanço de uma carreira de mais de sessenta anos, ela fala sobre suas inspirações e seu trabalho, principalmente depois dos anos 2000.
A cineasta disse então, durante uma longa e emocionante coletiva de imprensa em Berlim, que estava "desacelerando" e "se preparando para se despedir, para partir".
"Generosa, alegre, profundamente humana, Agnès Varda iluminou nossas vidas através de seus filmes de uma inventividade louca", reagiu nesta sexta-feira o presidente do Centro Nacional do Cinema (CNC) Frédérique Bredin, acrescentando que "trouxe através de suas obras, seus combates pela condição das mulheres".
"Varda partiu, mas Agnes sempre estará presente. Inteligente, alegre, doce, espirituosa, engraçada, surpreendente como a sua obra. Seus filmes são nosso tesouro", escreveu no Twitter o ex-presidente do Festival de Cinema de Cannes, Gilles Jacob.
Agnès Varda deveria inaugurar nesta sexta-feira à noite uma exposição no castelo de Chaumont-sur-Loire (centro-oeste), onde são apresentados três de seus trabalhos. "Acho ótimo que a arte seja integrada à natureza, é uma grande alegria estar aqui", disse ela no último sábado ao jornalista da AFP Christian Panvert, que a entrevistou.
"Ela fechava os olhos, tinha grande dificuldade em recuperar o fôlego, e segurava a minha mão", testemunhou o repórter nesta sexta. "Ela mostrou uma concentração infinita, impressionante, para dar a palavra certa, como se esta exposição fosse uma forma de despedida."