Argélia, onde o presidente Abdelaziz Buteflika se demitiu nesta terça-feira, era sacudida desde 22 de fevereiro por uma revolta provocada pela candidatura do chefe de Estado a um quinto mandato.
- "Não ao quinto mandato" -
Em 22 de fevereiro, milhares de pessoas - atendendo a convocações anônimas nas redes sociais - protestaram em diversas cidades do país contra um quinto mandato de Buteflika ou a entrega do poder a seu irmão Said, apesar da proibição de manifestações vigente desde 2001.
No poder há decadas, Buteflika, 82 anos, anunciou no dia 10 de fevereiro que concorreria a um quinto mandato nas eleições presidenciais de 18 abril, apesar do AVC que o debilitou consideravelmente a partir de 2013.
- Advertência -
No dia 26, milhares de estudantes protestaram pacificamente no centro da cidade.
Dois dias depois, dez jornalistas argelinos foram detidos durante várias horas após participar em Argel de uma reunião para denunciar pressões e restrições.
Em 1 de março, milhares de pessoas protestaram contra o governo em Argel, Orã e Constantina, as principais cidades do país.
No dia 2 de março, Buteflika destitui seu diretor de campanha, Abdelmalek Sellal, um colaborador próximo que foi primeiro-ministro, e o substitui por Abdelghani Zaalan, que apresenta oficialmente sua candidatura ao Conselho Constitucional.
No dia seguinte, em carta lida na TV nacional, Buteflika se compromete a não concluir o quinto mandato e a convocar eleições presidenciais antecipadas.
No dia 5 de março, o chefe do Estado-Maior, general Ahmed Gaïd Salah, declara que o Exército seguirá como "fiador" da estabilidade e da segurança diante dos que desejam levar a Argelia aos anos da guerra civil.
- Maré humana -
No dia 8, uma maré humana invade as ruas de Argel e de outras grandes cidades do país.
No dia 10, Buteflika regressa à Argélia após duas semanas hospitalizado na Suíça para "exames médicos".
Estudantes e professores ocupam várias universidades e é convocada uma greve geral.
O general Ahmed Gaïd Salah declara que o Exército "compartilha" com o povo argelino "os mesmos valores e princípios".
- Adiamento das presidenciais -
No dia 11, Buteflika renuncia a concorrer a um quinto mandato e adia as eleições presidenciais, sem informar a data para sua saída. Garante que as eleições ocorrerão após uma Conferência Nacional encarregada de elaborar uma nova Constituição.
O premier Ahmed Uyahia é substituído pelo ministro do Interior, Nuredin Bedui.
No dia 15, uma multidão se reúne no centro da capital e ocorrem protestos em quase todo o país, como "milhões" de argelinos nas ruas, segundo fontes diplomáticas.
Buteflika informa, três dias depois, que prorrogará seu mandato até a realização de novas eleições, após a revisão constitucional.
No dia 22, uma multidão ocupa o centro de Argel exigindo a "saída de todos".
- Demissão -
No dia 26, o general Ahmed Gaïd Salah propõe a saída para a crise com uma declaração de incapacitação do presidente para exercer o poder, como prevê a Constituição.
No dia seguinte, a Reunião Nacional Democrática (RND), principal aliado do partido de Buteflika, e seu secretário-geral, Ahmed Ouyahia, pedem a demissão do presidente. A principal central sindical do país também apoia a proposta do general Salah.
No dia 29, Argel volta a ser ocupada por manifestantes exigindo a "saída de todos".
Buteflika nomeia um novo governo, dirigido por Nuredin Bedui, e o general Ahmed Gaïd Salah permanece como vice-ministro da Defesa.
No dia 1 de abril, a presidência informa que Buteflika se demitirá antes do final de seu mandato, em 28 de abril.
Nesta terça-feira, o general Salah pede a imediata aplicação do processo constitucional que permite afastar o presidente do poder. Pouco depois, Buteflika informa ao Conselho Constitucional sua demissão.