O ex-presidente romeno Ion Iliescu será julgado por "crimes contra a Humanidade" por seu papel nos eventos sangrentos que se seguiram à revolta anticomunista e à queda de Nicolae Ceaucescu em 1989, anunciou nesta segunda-feira o Ministério Público.
"Este é um momento particularmente importante para a justiça romena que cumpre uma dívida de honra com a história", disse o promotor Augustin Lazar na apresentação das atas em Bucareste.
As acusações referem-se aos tiros que causaram centenas de mortes nos dias que se seguiram à fuga do ex-ditador em 22 de dezembro de 1989, em meio a manifestações anticomunistas em massa.
Iliescu, ex-dirigente comunista que hoje tem 89 anos, é acusado de estar por trás de uma "ampla operação de distração e desinformação" que criou uma "psicose generalizada marcada por tiros caóticos e fratricidas", segundo a promotoria.
Essa operação visava a permitir que a Frente Nacional de Salvação (FSN) tivesse "acesso ao poder e obtivesse legitimidade diante do povo".
Um total de 862 pessoas morreu e mais de 2.150 ficaram feridas nestas circunstâncias confusas, vítimas, de acordo com a versão oficial da época, dos misteriosos "terroristas leais ao ex-ditador".
A repressão da revolta anticomunista ordenada por Ceaucescu deixou, por sua parte, cerca de 200 mortos.
Iliescu liderou a Romênia do final de 1989 a 1996, e novamente de 2000 a 2004.
No ano passado, durante sua acusação, ele denunciou "uma farsa" e assegurou que apenas "cumpriu seu dever".
O anúncio deste julgamento vem depois de várias reversões: o caso foi apresentado em 2015 antes de ser reaberto em 2016 por decisão da mais alta corte.