Os cientistas acabaram, nesta quarta-feira (10), com o suspense que vem agitando os entusiastas da astronomia há dias ao anunciarem o resultado de um projeto inédito destinado a capturar a primeira imagem de um buraco negro.
Até agora, os buracos negros foram teorizados, modelados e até detectados por evidências indiretas, mas nunca observados.
É por isso que havia uma questão que não saía da cabeça dos astrônomos: como seria a imagem de um desses objetos celestes gigantescos, compactados em um volume muito pequeno?
De acordo com a lei da relatividade geral publicada em 1915 por Albert Einstein, que teoriza sobre seu funcionamento, a força gravitacional desses "monstros" cósmicos é tal que nada os escapa: nem matéria nem luz, independentemente do seu comprimento de onda. Resultado: são invisíveis.
Como vê-los, se são invisíveis? Os astrônomos procuraram observá-los por contraste, isto é, graças ao fundo brilhante que forma a matéria que os rodeia.
Em abril de 2017, oito telescópios do mundo, unidos pelo projeto Event Horizon Telescope (EHT), visaram simultaneamente a dois buracos negros: Sagitário A*, no centro da Via Láctea e seu congênere da galáxia M87. Com um objetivo: tente obter uma imagem.
Desde então, a comunidade científica aguarda os resultados.
- A prova definitiva -
"Uma foto é a prova definitiva da existência dos buracos negros", comemora Jean-Pierre Luminet, astrofísico francês e autor da primeira simulação numérica de um buraco negro em 1979.
"Até mesmo dentro da comunidade científica há alguns que ainda resistem" a acreditar em sua existência, acrescenta.
Os resultados das observações do EHT são apresentadas nesta quarta-feira em seis coletivas de imprensa organizadas simultaneamente em várias partes do mundo: Bruxelas, Santiago, Xangai, Tóquio, Taiwan e Washington.
Combinando oito telescópios, o EHT criou um telescópio virtual do tamanho da Terra, com cerca de 10.000 km de diâmetro.
Entre eles, destaca-se o do Instituto de Radioastronomia Milimétrica (IRAM) da Europa, o poderoso radiotelescópio ALMA construído no Chile, além de outras estruturas nos Estados Unidos, Havaí e Antártica.
Com este telescópio virtual, os astrônomos definiram como alvos os dois maiores buracos negros vistos da Terra.
O primeiro, Sagitário A*, está no centro da Via Láctea, a 26.000 anos-luz da Terra. Sua massa equivale a 4,1 milhões de vezes a massa do sol. Seu raio mede um décimo da distância entre a Terra e o Sol.
O outro é um dos maiores buracos negros conhecidos, com uma massa 6 bilhões de vezes maior do que a do Sol e 1.500 vezes a massa da Sgr A*.
Embora este último seja maior do que Sagitário A*, está tão longe do nosso planeta que "seu tamanho aparente deve ser um pouco menor" do que o de seu congênere, de acordo com os responsáveis pelo EHT.
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