A promotoria colombiana informou nesta quarta-feira (10) que encontrou evidências sobre o "grave dano" ambiental que está sendo gerado por uma megarepresa em construção sobre o rio Cauca, o segundo mais importante da Colômbia.
O organismo público pediu à justiça "medidas urgentes de proteção" ante o impacto do projeto Hidroituango - que esteve em risco de colapso há um ano - em suas zonas de influência.
Estas ações estão direcionadas a "salvaguardar os direitos fundamentais à vida, à saúde, ao mínimo vital, à sustentabilidade alimentar, ao meio ambiente e à salubridade pública de cerca de 60.000 habitantes", detalhou a promotoria em um informe apresentado à imprensa.
A área que está em risco abrange quatro municípios adjacentes ao rio Cauca, no departamento de Antioquia (noroeste).
A promotoria inspecionou o local e constatou a "invasão acelerada de 'buchón'", uma planta que cresce na água empoçada ou sem corrente suficiente e que altera "os processos biológicos de conservação dos ecossistemas".
O 'buchón' deixa uma espécie de manto - que já atinge 8,5 km de extensão - que bloqueia a entrada de luz solar, afetando a vida dentro da água.
"Estamos perdendo o rio Cauca a velocidades insólitas", enfatizou o chefe da entidade, Néstor Humberto Martínez, acrescentando que há uma "investigação penal" em torno do projeto.
O principal sócio da obra, Empresas Públicas de Medellín (EPM), tenta conter a expansão desta planta invasora com uma máquina, que "resulta ineficiente", segundo os investigadores.
A promotoria enfatizou especialmente as consequências do 'buchón' sobre a "população de peixes, em qualidade, tamanho, carne e em sua mesma reprodução". A pesca é a principal atividade econômica na região de influência da represa.
Os especialistas encontraram resíduos de uma máquina de asfalto abandonada pelos construtores que afeta um dos afluentes do Cauca. "Essa fábrica não foi fechada tecnicamente nem foi feita uma coleta adequada como estabelecem as normas ambientais", apontou.
Além disso, existe o risco de deslizamento de escombros em um trecho da obra, que "poderia represar o leito do rio Cauca com as consequências de uma possível avalanche".
Considerada uma das obras de engenharia mais ambiciosas na Colômbia, Hidroituango deverá cobrir quase um quinto da demanda energética do país, com um investimento equivalente a 3,7 bilhões de dólares.
A megaobra entrou em emergência no início de maio. Um deslizamento de terra bloqueou o túnel de saída da água e forçou a evacuação temporária de até 25.000 moradores de municípios próximos, dos quais 3.000 ainda estão em abrigos, segundo autoridades.
A construção da usina hidrelétrica está sob a responsabilidade do consórcio CCC Ituango, formado pela brasileira Camargo Corrêa (55%) e pelas Colômbia Conconcreto (35%) e Coninsa-Ramón H (10%).
A Camargo Corrêa está envolvida em um esquema de corrupção descoberto no Brasil, através do qual grandes construtores pagavam propinas a políticos em troca da concessão de obras milionárias na Petrobras.
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