O Irã anunciou nesta quarta-feira (8) que deixará de cumprir alguns dos compromissos assumidos no acordo sobre seu programa nuclear em resposta à saída dos Estados Unidos do acordo em 8 de maio de 2018.
Confira abaixo os principais acontecimentos desde a decisão do presidente americano, Donald Trump, de retirar seu país de forma unilateral do acordo assinado com o Irã:
- Trump anuncia sua retirada -
Trump anunciou em 8 de maio de 2018 a saída dos Estados Unidos do acordo e o restabelecimento das sanções contra o Irã e contra as empresas internacionais que fizerem negócios com o país.
Firmado em 2015 depois de dois anos de negociações entre Irã, Estados Unidos, China, Reino Unido, França e Alemanha, este pacto permitiu suspender uma parte das sanções contra Teerã em troca do compromisso do regime islâmico de não se dotar de nenhuma bomba nuclear.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã respeitou as condições do acordo.
Depois de sua saída unilateral, Washington indicou que as sanções seriam efetivadas de maneira imediata para os novos contratos e deu um prazo de 90 a 180 dias para que as multinacionais abandonassem suas atividades no Irã.
França, Alemanha e Reino Unido afirmaram estar decididos a garantir a execução do texto e a preservar os benefícios econômicos para a população iraniana.
- Teerã quer garantias -
Em 8 de maio, o presidente iraniano, Hassan Rohani, advertiu que Teerã poderia deixar de respeitar as limitações impostas pelo acordo nuclear e voltar a enriquecer urânio, caso as negociações com os dirigentes europeus, russos e chineses não dessem os resultados esperados.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, exigiu, em 9 de maio, garantias reais aos líderes europeus.
Quatro dias depois, o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, começou uma rodada diplomática para salvar o acordo.
Apesar de os dirigentes europeus se comprometerem em Bruxelas que garantiriam recursos econômicos ao Irã, grandes empresas, como a francesa Total, paralisaram suas atividades econômicas no Irã diante do temor das sanções americanas.
- Pressão -
Em 21 de maio, o governo dos Estados Unidos ameaçou o Irã com as sanções "mais fortes da história", se Teerã não aceitasse as condições para alcançar um "novo acordo". O objetivo de Washington é reduzir a influência do regime iraniano no Oriente Médio.
A vice-presidente iraniana para Mulheres e Assuntos da Família, Masoumeh Ebtekar, declarou em 8 de junho que o Irã desejava que a preservação do acordo fosse confirmada "o mais rápido possível". Também alertou que o país havia iniciado "os trabalhos preparatórios" para voltar a enriquecer urânio, no caso de um rompimento definitivo do pacto.
- Apoio ao Irã -
Em 2 de julho, o diretor político do Departamento de Estado, Brian Hook, lembrou que Washington estava empenhada em reduzir a zero as exportações de petróleo iranianas. No dia seguinte, Rohani respondeu que as autoridades americanas nunca conseguiriam impedir o Irã de exportar petróleo.
Os dirigentes dos países europeus, da Rússia e da China anunciaram no dia 6 de julho o desejo de permitir ao Irã a continuidade da exportação de petróleo e gás. O compromisso constava de uma lista de 11 objetivos estabelecidos em Viena durante uma reunião com Teerã.
Dez dias depois, os líderes europeus rejeitaram o pedido dos Estados Unidos de isolar economicamente o Irã e aprovaram medidas jurídicas para proteger as empresas europeias das sanções americanas.
No dia seguinte, no entanto, fontes europeias reconheceram que o governo americano rejeitou o pedido para que Washington não punisse as empresas europeias presentes no Irã.
Então, o governo iraniano elevou o tom, informando que denunciaria o governo dos Estados Unidos na Corte Internacional de Justiça pela retomada das sanções.
- Ameaças -
Em 22 de julho, o presidente Rohani advertiu Washington para "não brincar com fogo" - utilizando uma expressão em farsi que recomenda "não brincar com a cauda do leão" - e afirmou que um conflito com o Irã "seria a mãe de todas as guerras".
Trump reagiu, exigindo que o Irã "nunca mais" volte a ameaçar os Estados Unidos.
Uma semana depois, o presidente americano suavizou o discurso e, em 30 de julho, disse estar disposto a se reunir com os dirigentes iranianos "quando eles desejarem, sem condições prévias".
"As ameaças, as sanções e os efeitos do anúncio não funcionarão", reagiu o chefe da diplomacia iraniana.
- Tensão -
Manifestantes iranianos atacaram em 3 de agosto uma escola religiosa em uma província próxima a Teerã. No início do referido mês, centenas de pessoas se reuniram nas grandes cidades iranianas para protestar contra as dificuldades econômicas. Em 7 de agosto, viria o restabelecimento da primeira bateria de sanções americanas.
- Mecanismo -
Em 31 de janeiro de 2019, França, Alemanha e Reino Unido anunciaram a criação de um mecanismo, o Instex, para permitir que empresas da União Europeia negociem com o Irã, apesar das sanções dos Estados Unidos.
- Mísseis balísticos -
Em 7 de março, os Estados Unidos exigem sanções internacionais contra o Irã. O país é acusado de realizar testes com mísseis, violando uma resolução da ONU.
Em 2 de abril, Reino Unido, França e Alemanha solicitaram um relatório completo da ONU sobre as atividades de mísseis balísticos iranianos.
- 'Grupos terroristas' -
Em 8 de abril, os Estados Unidos incluem a Guarda Revolucionária, a força militar de elite do Irã, na lista de "organizações terroristas estrangeiras", bem como a força Qods, encarregada das operações estrangeiras da Guarda.
O Irã, por sua vez, qualifica os Estados Unidos de "Estado patrocinador do terrorismo" e considera as forças americanas estacionadas no Oriente Médio, no Chifre da África e na Ásia Central como "grupos terroristas".
- Fim das isenções -
Em 22 de abril, Donald Trump decidiu cancelar, a partir de maio, as isenções que permitiam que oito países (China, Índia, Turquia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Itália e Grécia) comprassem petróleo iraniano.
Em 28 de abril, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, declarou que o Irã poderia abandonar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
- Implantação militar dos EUA -
Em 5 de maio, o conselheiro americano para a Segurança Nacional, John Bolton, anunciou a implantação no Golfo de uma força-tarefa liderada por um porta-aviões, juntamente com uma força de bombardeiros para "responder implacavelmente a qualquer ataque contra os interesses americanos, ou de nossos aliados".
Em 7 de maio, o Pentágono anunciou o envio de vários bombardeiros B-52 para a região do Golfo.
- Decisão do Irã -
Em 8 de maio, o Irã anunciou que deixaria de aplicar "alguns" dos "compromissos" assumidos no acordo sobre o seu programa nuclear. Em particular, deixará de limitar as reservas de água pesada e de urânio enriquecido.
Também estabeleceu um prazo de 60 dias para que os outros signatários do acordo (Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) cumpram "seus compromissos, particularmente nos setores petroleiro e bancário".