Jornal Estado de Minas

Narendra Modi, o homem forte da Índia

Monopolizando o espaço público como poucos de seus antecessores o fizeram, homem do povo e orador carismático, Narendra Modi, a caminho de um segundo mandato à frente da Índia, é um dos primeiros-ministros mais poderosos do gigante do sul da Ásia.

A apuração dos votos das eleições legislativas apontava nesta quinta-feira (23) uma esmagadora vitória açafrão, a cor dos nacionalistas hindus do Bharatiya Janata Party (BJP), no Parlamento para os próximos cinco anos.

Filho de um vendedor de chá de Gujarat (oeste da Índia), Narendra Modi, de 68 anos, impôs-se como o homem forte do país de 1,3 bilhão de habitantes, graças a uma personificação do poder e a um formidável faro político. A tal ponto que essas eleições quase foram um referendo sobre sua pessoa.

O chefe de governo promete o advento de uma "nova Índia", nacionalista, de economia moderna e digital, que estaria entre as grandes potências do mundo. Sob sua liderança, a sociedade indiana vive a propagação e banalização de um discurso étnico-religioso baseado em uma ideologia de supremacia hindu, na qual seus críticos veem um perigo para a diversidade indiana.

Em vez de se concentrar no desenvolvimento da economia, como quando foi eleito em 2014, ele escolheu fazer campanha este ano com uma retórica de segurança, posando como o protetor da Índia contra o inimigo Paquistão.

- Comunicação controlada -

Na televisão, na Internet, em cartazes na rua, o rosto de Narendra Modi está em toda a parte. A Índia não via essa onipresença de um líder político desde a primeira-ministra Indira Gandhi, cujo neto Rahul Gandhi é hoje um dos principais opositores desse nacionalista hindu.

Seu discurso é unidirecional: ele não participou de nenhuma coletiva de imprensa durante o mandato e raramente deu entrevistas.

Em detrimento da imprensa tradicional, prefere as mensagens nas redes sociais e os comícios políticos, durante os quais emana uma energia inesgotável. O chefe do governo realizou 142 comícios em toda Índia durante a campanha, às vezes a uma taxa de cinco por dia.

Essa estratégia de comunicação lhe dá controle total de sua mensagem, na qual as declarações são tão significativas quanto as omissões.

De sua conta no Twitter, seguida por 47 milhões de pessoas, "NaMo" é rápido em reagir ao menor acidente de trânsito. Em contraste, esperou meses antes de romper o silêncio para condenar os linchamentos cometidos por milícias em nome da defesa da vaca sagrada.

Onde seus antecessores privilegiavam o inglês em discursos oficiais, Narendra Modi fala em hindi. Em seus pronunciamentos, cultiva uma ligação direta com as multidões, apresentando-se como um homem de origem modesta.

- Surpresas -

Seu mandato foi pontuado por surpresas. Em novembro de 2016, quando o mundo acompanhava a eleição presidencial dos Estados Unidos, decretou o cancelamento das notas de 500 e de 1.000 rúpias (6,5/13 euros), em nome, entre outros, da luta contra a corrupção.

O Estado não havia previsto novas notas suficientes para substituir as que foram desmonetizadas, que representavam quase 90% do dinheiro em circulação, provocando o caos.

Os indianos fizeram filas durante semanas em frente a caixas automáticos vazios. A economia para abruptamente, o crescimento desacelera.

Este fiasco econômico é transformado pelo primeiro-ministro em uma grande oportunidade política, porém.

Com lágrimas nos olhos, voz embargada e lábios trêmulos, sai em defesa de sua decisão, apresentando o golpe fatal contra a corrupção.

Aposta vencedora: poucas semanas depois, sua sigla conquistou uma brilhante vitória eleitoral em Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia com 220 milhões de habitantes, e colocou à sua frente um monge radical hindu.

Nascido em 1950, praticante matinal de ioga e vegetariano, Narendra Modi cresceu banhado pela ideologia nacionalista hindu do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS, Corpo Voluntário Nacional), uma organização de métodos paramilitares.

Ele avançou progressivamente na política para se tornar governador de seu estado natal de Gujarat, em 2001.

Os tumultos intercomunitários que assolaram a região no ano seguinte, matando mais de mil pessoas, a maioria muçulmanos, deixaram uma marca indelével em seu balanço. Este episódio o fez ser criticado por muito tempo pelos países ocidentais, que passaram a adorá-lo apenas na véspera de sua conquista de Nova Délhi.

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