A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou nesta segunda-feira estar "profundamente chocada" com as condições de detenção dos migrantes nos Estados Unidos e ressaltou que as crianças nunca deveriam ser separadas de suas famílias.
Esta vívida crítica da parte de Bachelet acontece um dia após as declarações do presidente americano Donald Trump, que anunciou que centros de detenção de migrantes, condenados por sua superlotação e péssimas condições de vida, serão abertos aos jornalistas.
"Como pediatra, mas também como mãe e ex-chefe de Estado, estou profundamente impactada com o fato de que algumas crianças sejam obrigadas a dormir no chão em instalações superlotadas, sem acesso a cuidados de saúde ou a alimentos adequados e em más condições de saúde", declarou Michelle Bachelet em um comunicado.
"Manter em regime de detenção uma criança, mesmo que por curtos períodos e em boas condições, pode ter graves consequências sobre a sua saúde e seu desenvolvimento. Pensem nos estragos causados a cada dia por esta situação alarmante", acrescentou.
"Na maioria dos casos, os migrantes e refugiados se aventuram em perigosas viagens com seus filhos em busca de proteção e dignidade, longe da violência e da fome. Quando finalmente acreditam que estão em segurança, são separados de seus entes queridos e detidos em condições indignas", insistiu Bachelet.
Vários organismos das Nações Unidas encarregados dos direitos Humanos advertiram que a detenção de crianças migrantes poderia configurar um tratamento cruel, desumano ou degradantes, proibido pelo direito internacional.
Em maio, 144.000 pessoas foram detidas e colocadas em detenção pela polícia de fronteiras (CBP). Mas faltam vagas nessas estruturas, bem como nos centros de acolhida para onde os menores e as famílias são normalmente transferidos.
Um relatório do Departamento americano de Segurança Nacional (DHS), responsável pela guarda de fronteira, admitiu na semana passada uma "superpopulação perigosa" em muitos centros de acolhida de migrantes clandestinos, em sua maioria centro-americanos que fogem da violência e da miséria em seus países de origem.
Legisladores democratas que também visitaram os centros de detenção informaram sobre superlotação de celas e ausência de água corrente. Crianças e adultos não tinham acesso a medicamentos e não tomavam banho há duas semanas.
No domingo, em um tuíte, Trump disse que "se os imigrantes ilegais não estão contentes com as condições nos centros de detenção construídos ou recondicionados rapidamente, diga a eles que não venham. Problema resolvido!".
Para Bachelet, "toda privação de liberdade dos migrantes e refugiados adultos deveria ser uma medida de último recurso".
"Se a detenção acontece, deveria durar o mínimo possível", afirmou, pedindo às autoridades que encontrem medidas "não privativas de liberdade" para os migrantes e refugiados.
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