A extrema direita alemã, com sua ala radical cada vez mais ativa, enfrenta uma crise de crescimento com pesquisas estagnadas, suspeitas de sonegação e controvérsias estratégicas.
O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), abalado há meses por suspeitas de doações ilícitas procedentes do exterior, sofre recentemente com tensões internas entre a sua direção e seus membros mais extremistas.
No sábado, seu dirigente em Turíngia - estado no qual o AfD é muito forte - voltou a provocar turbulências.
Björn Höcke, chefe das fileiras da "Ala", a fileira mais radical do partido oficialmente sob a vigilância dos serviços de Inteligência, atacou duramente a direção do partido.
Höcke, que evitou ser excluído do AfD após qualificar em 2017 o Memorial do Holocausto de "monumento da vergonha", permitiu-se, entre aplausos de seus seguidores, defender uma renovação próxima dos dirigentes do partido.
A réplica não demorou. Uma centena de dirigentes escreveu uma carta aberta, intitulada "Por um AfD unido e forte", acusando Höcke de ter "violado a solidariedade interna do partido e ter apunhalado pelas costas os militantes".
- "Culto à personalidade" -
Os signatários criticaram, ainda, o "culto à personalidade", que ronda este dirigente regional em seu reduto.
O líder do partido, Alexander Gauland, teve que intervir para lembrar que o AfD não foi fundado para "criar um espaço onde qualquer um pode dizer qualquer coisa".
Outras lutas internas similares afetam as federações da Baviera e da Renânia do Norte-Westfalia.
E em outro estado, Schleswig-Holstein, os militantes do AfD local elegeram no fim de junho como líder Doris von Sayn-Wittgenstein, apesar de ser alvo de um proceso de exclusão por seus vínculos com um pequeno grupo radical.
Fundado em 2013, o AfD fez uma entrada espetacular na Bundestag (Parlamento alemão) há dois anos, impulsionado pelo desgaste dos partidos tradicionais e pela abertura das fronteiras a centenas de milhares de migrantes e refugiados sírios e iraquianos, entre outros.
Há meses o partido não sai de 12% a 14% nas pesquisas, razão pela qual sofre para transformar em realidade sua grande ambição: ser a principal força de oposição à coalizão de Angela Merkel, uma chanceler extremamente frágil neste momento.
O AfD é claramente superado pelos Verdes, que chegam a 25% das intenções de voto e seduzem um número crescente de jovens.
- "Cândida ilusão" -
No entanto, o partido de extrema direita se mantém forte na antiga RDA onde, 30 anos depois da queda do muro, poderia chegar em primeiro lugar após o verão (boreal) em várias eleições regionais, o que pode desestabilizar a chanceler e sua coalizão.
Mas em nível federal, sua mensagem anti-islã teve menos êxito desde o fim da chegada maciça de solicitantes de asilo, procedentes de países do mundo árabe muçulmano.
O ceticismo do AfD sobre as mudanças climáticas também traz problemas, inclusive em nível interno. Após um decepcionante resultado nas eleições europeias (10,97%), a juventude do partido, Junge Freiheit, exortou à direção do partido que pare de negar a realidade da emergência climática, sobretudo quando este tema encabeça a prioridade dos alemães.
Para Alexander Gauland, de 78 anos, o partido atravessa sua "crisis de puberdade", o que dificulta seu trabalho de atrair os decepcionados da direita conservadora de Angela Merkel (CDU), após 14 anos de governo ininterrupto.
Estes problemas impedem, ainda, as tentativas de alguns dirigentes da CDU de criar coalizões locais com o AfD, uma opção que até agora tanto Merkel quanto a nova líder do partido, Annegret Kramp-Karrenbauer, têm descartado.
"O sonho de Gauland de uma força que congregue conservadores e radicais é cada vez mais uma cândida ilusão", resumiu na quarta-feira o jornal Frankfurter Allgemeine.
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