O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta-feira que a investigação da trama russa foi uma "grande farsa", ao fim do depoimento do procurador especial Robert Mueller, que deu aos democratas pouca munição para a abertura de um processo de impeachment.
Em sua esperada audiência no Congresso, Mueller, que investigou a ingerência russa na campanha eleitoral de 2016 nos Estados Unidos, negou poder isentar Donald Trump de obstruir sua investigação, embora tenha se recusado a fazer acusações ao presidente.
Em uma audiência tensa, Mueller disse aos legisladores democratas e republicanos que embora as diretrizes do Departamento de Justiça impeçam processar um presidente no exercício de suas funções, teoricamente Trump poderia ser processado por obstrução da Justiça depois de deixar o cargo.
Com a voz trêmula e em alguns momentos com um semblante de incerteza, o procurador especial de 74 anos não deu aos democratas o que eles queriam: uma declaração que indicasse claramente que Trump obstruiu a Justiça, de forma que se pudesse sustentar um processo de impeachment.
Embora Trump tenha insistido nesta semana que não iria ver o depoimento, televisionado ao vivo em todo o país, uma vez que ele terminou, ele comemorou dizendo que tinha sido "um bom dia" para ele, seu partido republicano e o país.
"Não havia argumentos para o que Robert Mueller estava tentando defender", disse Trump à imprensa. "Não havia argumentos para essa ridícula farsa", concluiu.
- Trump "não foi inocentado" -
O depoimento do procurador aconteceu num momento em que republicanos e democratras aquecem motores para a eleição presidencial e legislativa de 2020, com Trump determinado a repetir sua vitória.
O promotor especial abriu a audiência com uma declaração lida que dava a impressão de que ele poderia estar se preparando para responder aos ataques contra ele e a investigação lançados por Trump, que o criticou taxando o trabalho como uma "caça às bruxas".
"O presidente não foi inocentado pelos atos que supostamente cometeu", disse Mueller, e acrescentou que era "certo" que Trump poderia ser processado por obstrução da Justiça depois de deixar o cargo.
Mas disse estar impedido de recomendar a apresentação de acusações contra Trump porque as regras do Departamento de Justiça (Procuradoria-geral) o proibiam de acusar um presidente no exercício de suas funções.
"O presidente não pode ser processado por um delito", disse, apesar de acrescentar que era "certo" que Trump poderia ser processado por obstrução da justiça após deixar o cargo.
Na segunda audiência perante o Comitê de Inteligência, Mueller confirmou que a equipe de campanha de Trump teve contatos questionáveis com a Rússia em 2016, em parte impulsionados por negócios que queriam assegurar
E disse que é "absolutamente correto" que, apesar de não ter acusado os membros da campanha de Trump de conspiração por fazer conluio com os russos, sua investigação encontrou, sim, evidências de conspiração.
Mueller qualificou de problemático o incentivo público de Trump para que o WikiLeaks vazasse documentos roubados pela Rússia sobre sua adversária nas eleições presidenciais de 2016, a democrata Hillary Clinton.
Em relação aos contatos entre o WikiLeaks e o filho de Trump, Donald Jr., nessa época, Mueller disse que eram "perturbadores".
Em uma tentativa de se descolar da campanha para as eleições presidenciais em 2020, Mueller negou-se a ler em voz alta as conclusões de seu relatório ou a descrevê-las em frases completas.
As respostas evasivas e curtas do procurador tampouco comungaram com os esforços dos democratas de encontrar novos caminhos para afetar a reputação de Trump.
- Democratas ainda analisam o impeachment -
Os democratas, que na semana passada aplaudiram um chamado nascido de suas fileiras para iniciar um processo de impeachment contra Trump, argumentaram que o testemunho de Mueller acrescentava argumentos para um "impeachment" e que eles continuariam buscando informações.
"Vamos combater o presidente no tribunal" para obter registros e testemunhos, disse o líder da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi.
"Se tivermos um caso para um impeachment, temos que ir (ao tribunal)", disse Pelosi, acrescentando que eles querem ter o caso mais sólido possível para tomar uma decisão.
Mas para os republicanos, o depoimento de Mueller põe fim à investigação.
"O povo americano entende que este assunto acabou. Eles também acreditam que o caso está encerrado", disse o advogado de Trump, Jay Sekulow, em um comunicado.
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