O ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, afirmou no fim de semana que o governo da Venezuela "é uma ditadura, sim", durante entrevista à uma rádio local no sábado, 27.
Como uma das principais figuras políticas da esquerda uruguaia, Mujica, que comandou o país entre 2010 e 2015, desencadeou uma crise política. Até o momento, o movimento havia sustentado que qualificar como "ditadura" o regime do presidente Nicolás Maduro não ajudava a buscar uma saída negociada à crise venezuelana, um objetivo do atual presidente uruguaio Tabaré Vázquez.
Enquanto 50 países têm dado seu apoio público à oposição venezuelana, ao reconhecer o autoproclamado presidente interino da Venezuela e líder da Assembleia Nacional do país, Juan Guaidó, como o governante oficial do país, tanto Uruguai quanto México têm insistido em manter uma postura neutra perante a situação.
O próprio Mujica, em maio, afirmou que as pessoas "não devem ficar na frente dos blindados", após os veículos da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) terem atropelado manifestantes antichavistas no levante militar fracassado de Guaidó para tirar Maduro do poder. A afirmação foi criticada, já que coloca nas vítimas a culpa pelos atropelamentos.
Em meio a campanha eleitoral das eleições presidenciais e legislativas em outubro no Uruguai, os principais líderes da coalizão de esquerda pró governo Frente Ampla haviam evitado definir o regime de Maduro como uma ditadura. A afirmação de Mujica foi uma ruptura com o discurso oficial.
No domingo, o candidato presidencial da Frente Ampla e ex-prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez, que já havia sido crítico ao governo venezuelano, mas havia negado qualificá-lo como uma ditadura, escreveu em sua conta no Twitter: "O relatório de (Michelle) Bachelet é estritamente fiel (à situação) da Venezuela e se trata de uma ditadura. É preciso seguir trabalhando em uma saída negociada e que o centro sejam os venezuelanos".
Enquanto isso, a oposição havia reiterado que não condenar o regime de Maduro mostra a falta de convicções democráticas da Frente Ampla. O ex-presidente uruguaio Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000), figura importante da oposição, havia apontado que a eleição havia se reduzido a uma competição entre aqueles que creem que a Venezuela é uma democracia e aqueles que pensam o contrário.
Por enquanto, as pesquisas eleitorais apontam que a oposição ganhou vantagem em relação a Frente Ampla, que ganhou as três últimas eleições no país. Para a oposição, a posição oficial de que há uma ditadura na Venezuela foi dada por causa do medo de perder as eleições, e por isso não é sincera.
"Eles eram parceiros políticos e econômicos da ditadura que eles agora descobrem. Bem vindos.