Jornal Estado de Minas

Jovens argentinas se lançam à corrida eleitoral

Pequena e com um grande sorriso, Ofelia Fernández está concorrendo com apenas 19 anos ao cargo de legisladora de Buenos Aires nas eleições de outubro. Um breve discurso no Congresso em defesa do aborto legal catapultou-a em 2018 para a corrida política.

Recém-saída das salas de aula do ensino médio, ela ainda vive com a mãe. Mas já é uma figura destacada do peronismo de esquerda e um símbolo de uma geração determinada a fazer ativismo político para alcançar suas demandas.

"Essa geração tem uma marca: a busca por disputar poder", disse à AFP, ao explicar que seu compromisso político é atravessado pela onda feminista que no ano passado levou adiante a campanha pela legalização do aborto, finalmente rejeitado no Senado.

"Temos essa hipótese de que durante todo o tempo em que os espaços não foi ocupado por nós (mulheres), ninguém fez nada por nós", assegura Fernández.

Líder da Frente Pátria Grande, essa jovem tem espaço preferencial na lista da coalizão do peronismo de centro-esquerda Frente de todos, com Alberto Fernández na presidência e a ex-presidente Cristina Kirchner como vice.

- Uma força eleitoral -

Na Argentina, os jovens entre 18 e 24 somam mais de 6 milhões de pessoas e representam 22% do padrão eleitoral. Além disso, quem tem entre 16 e 17 (2,8% do registro) contam desde 2012 com direito ao voto, mas não têm a obrigação de votar.

Julia Andrade, de 16 anos, milita em La Cámpora, o movimento juvenil kirchnerista, e está entusiasmada. "Vou votar porque quero decidir o projeto de país que eu quero. Me enche de felicidade ser parte dessa mudança que queremos gerar", declarou.

Para os jovens entre 18 e 24 anos, homens e mulheres, os atributos mais importantes que o próximo presidente precisa ter são "capacidade para resolver a inflação" (52%) e "preocupação pela situação dos pobres" (49%), segundo uma pesquisa da empresa Ipsos realizada em fevereiro e março.

A inflação na Argentina, que chegou a 22% no primeiro semestre de 2019, é das mais altas do mundo. E houve um aumento da pobreza, que fechou no ano passado em 32%, segundo dados oficiais.

Mas a afiliação partidária é muito baixa (4% para o grupo de entre 18 e 24) e 43% pensa que "nunca vai sentir simpatia por nenhum partido político".

A política, para essa geração, transcorre mais através de "causas" e deve ser levada adiante de maneira horizontal.

"Entendemos que há muita gente que se interessa por política, mas não se vê interpelada por um partido político, e, sim, por reivindicações concretas. Buscamos unir todo isso, dando uma organização mais coletiva", refere à AFP Ana Julia Aneise, de 23 anos, e integrante do grupo Os jovens.

- No outro lado -

As grandes manifestações a favor da legalização aborto, com participação expressiva de adolescentes, motivou também a saída às ruas daqueles que estavam do outro lado.

Camila Duró, estudante universitária de 25 anos, é uma delas.

Pertence à ONG Frente Jovem, que se dedica ao trabalho social em bairros humildes e se opõe ao aborto com o lema da defesa das "duas vidas".

O debate parlamentar "foi uma pedra de toque. Motivou muitos de nós que talvez não tivessem na agenda dar um salto político. A situação, a necessidade, nos motivou", conta Duró.

"Acho que os jovens têm o desejo de serem ouvidos, porque também há muito a dizer. A Argentina ainda tem muitas contas pendentes que resolver, especialmente a pobreza que hoje é o que mais dói, talvez o que mais mobiliza muitos a se envolverem na política", explica.

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