A ONU pediu, nesta quinta-feira, a proteção da Amazônia, onde incêndios florestais se proliferam, pouco depois de o presidente Jair Bolsonaro criticar uma "psicose ambiental" promovida por ONGs que atuariam contra os interesses nacionais.
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O presidente Jair Bolsonaro lamentou que Macron "busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia não contribui em nada para a solução do problema".
Grupos ambientalistas convocaram protestos em todo o mundo para esta sexta-feira e o movimento da jovem sueca Greta Thunberg propôs a realização de manifestações diante das embaixadas e consulados do Brasil.
A causa mobilizou figuras do espetáculo e dos esportes, como Madonna, o ator Mark Hamill e o jogador Cristiano Ronaldo.
"Os incêndios que devastam a Amazônia seguem ardendo... Isto é a devastação do Brasil, dos povos indígenas que vivem lá - e das plantas e das espécies animais da mais importante reserva de biodiversidade!!! Por favor, presidente Bolsonaro", escreveu Madonna no Instagram.
O Peru decretou alerta diante da possibilidade da propagação dos incêndios sobre seu território.
O presidente Sebastián Piñera "ofereceu ao presidente Jair Bolsonaro a colaboração do Chile para ajudar este país irmão e amigo a combater com maior eficiência e força os graves incêndios florestais que afetam a Amazônia".
O líder chileno telefonou a Bolsonaro para manifestar sua solidariedade.
A Colômbia ofereceu ajuda para conter essa "tragédia ambiental".
"A tragédia ambiental no Amazonas não tem fronteiras e deve chamar a atenção de todos. Do Governo Nacional oferecemos aos países irmãos nosso apoio para trabalhar conjuntamente em um propósito que nos urge: proteger o pulmão do mundo", escreveu no Twitter o presidente Iván Duque.
O governo da Bolívia convocou Brasil e Paraguai a agirem para deter os incêndios na região de fronteira entre os três países, que já destruiu 744.711 hectares de matas, pastos e plantios na região de Chiquitanía (leste).
"De nada servirá para nós controlar o fogo no território nacional se isto não for feito no território brasileiro e no paraguaio", declarou o ministro boliviano da presidência, Juan Ramón Quintana.
O presidente do Equador, Lenín Moreno, "conversou com @jairbolsonaro para colocar a sua disposição um avião que transportará três brigadas equatorianas de especialistas em incêndios florestais e investigação ambiental, que ajudarão a paliar a tragédia na selva amazônica".
A Venezuela, como integrante da comunidade amazônica, ofereceu "a modesta ajuda que possa brindar nesta dolorosa tragédia" e manifestou sua "profunda preocupação com os gigantescos e terríveis incêndios que devastam a região" e seus "gravíssimos impactos sobre a população, os ecossistemas e a diversidade biológica".
O fogo tem se espalhado a cada dia no país: entre janeiro e 21 de agosto, 75.336 focos de incêndio foram registrados no Brasil, 84% a mais que no mesmo período de 2018, segundo dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse número mostra um aumento de 2.493 focos em comparação com a segunda-feira passada.
Bolsonaro, que nega a mudança climática e defende que as reservas indígenas e as zonas protegidas da floresta sejam abertas a atividades agropecuárias e à mineração, voltou a criticar a "psicose ambiental" que obstruiria o desenvolvimento do país.
"Essa psicose ambiental não deixa fazer nada. Eu não quero acabar com o meio ambiente. Eu quero é salvar o Brasil", afirmou ainda, defendendo a mudança de orientações em relação às últimas décadas.
Nero da Amazônia
Na véspera, Bolsonaro levantou suspeitas de que as ONGs que recebem ajuda externa poderiam ter causado incêndios voluntariamente. Nesta quinta, ficou indignado com publicações que teriam dito que eram acusações formais. "Nunca acusei as ONGs", afirmou, para depois esclarecer: "Eu disse que suspeitava das ONGs".
"Agora, me acusar como capitão Nero tocando fogo lá é uma irresponsabilidade, é fazer campanha contra o Brasil", acrescentou o presidente, na saída de sua residência em Brasília, referindo-se ao imperador Nero a quem algumas tradições atribuem o grande incêndio de Roma no século no I.
"Se o mundo lá fora começar a impor barreiras comerciais, cai nosso agronegócio (...), a economia começa piorar, a vida de vocês, editores de jornais, donos de televisões, vai ficar complicada como a vida de todos os brasileiros, todos sem exceção, é um suicídio o que vocês estão fazendo. A imprensa está cometendo um suicídio".
"Se era para fazer a mesma coisa que fizeram até agora, o povo tinha que ter votado em outras pessoas, o povo está com a gente, minha base é o povo", enfatizou.
Segundo especialistas, os focos de incêndio se intensificaram dentro de um quadro de rápido avanço do desmatamento na região amazônica, que em julho quadruplicou em relação ao mesmo mês de 2018, segundo dados do Inpe.
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