A Câmara dos Lordes aprovou, nesta sexta-feira (6), o projeto de lei que obriga o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a pedir o adiamento do Brexit.
Adotado pelos deputados da Câmara dos Comuns na última quarta, o texto agora deve receber o aval da rainha Elizabeth II, a partir de segunda-feira, para se tornar lei. O objetivo é adiar o Brexit por mais três meses, caso Johnson não chegue a um acordo de divórcio com a União Europeia (UE) até 19 de outubro.
Ainda determinado a obter eleições antecipadas para superar a situação de bloqueio do Brexit, Johnson visitou a Escócia hoje em um clima de pré-campanha, mas cada vez mais abalado pelas derrotas no Parlamento e pela renúncia do irmão.
Boris Johnson visitou uma fazenda na região norte do país ao fim de uma semana intensa. O governo perdeu a maioria parlamentar, viu a aprovação de uma lei que o obrigaria a solicitar outro adiamento do Brexit, e os deputados votaram contra a opção de eleições gerais.
No evento desta sexta, Johnson anunciou uma importante ajuda financeira para os agricultores escoceses após o Brexit - um ato com toda cara de campanha eleitoral.
"Não acredito que teremos um Brexit sem acordo. Tenho confiança em conseguir um acordo na reunião europeia de 17 de outubro", declarou o premiê ao canal Sky News durante a visita à área rural.
Quase ao mesmo tempo, porém, Antti Rinne, primeiro-ministro da Finlândia, país que preside a União Europeia (UE) atualmente, afirmou que, pelo caos político no Reino Unido, "não parece agora possível" alcançar um acordo até o fim de outubro.
No campo judicial, Johnson obteve uma vitória: o Alto Tribunal de Londres rejeitou nesta sexta-feira uma ação contra sua decisão de suspender as atividades do Parlamento a partir da próxima semana e até 14 de outubro, duas semanas antes da data prevista para o Brexit.
Apresentada pela empresária e ativista anti-Brexit Gina Miller com o apoio de vários pesos pesados políticos - entre eles o ex-primeiro-ministro conservador John Major -, a ação foi rejeitada, como já havia acontecido na quarta-feira com uma demanda similar apresentada em Edimburgo.
Apresentada na Irlanda do Norte, uma terceira demanda contra a suspensão parlamentar ainda será examinada.
Miller - que em 2017 venceu uma importante batalha judicial sobre o Brexit contra o governo de Theresa May - anunciou que vai recorrer à Suprema Corte em 17 de setembro.
"Minha equipe legal e eu não abandonaremos a luta pela democracia", declarou.
- Brexit "divide as famílias" -
Johnson recebeu duros golpes esta semana.
No plano pessoal, seu irmão mais novo, Jo Johnson, renunciou ao cargo de secretário de Estado para a Ciência e ao posto de deputado. Ele alegou a "tensão irresolúvel entre a lealdade familiar e o interesse nacional".
O primeiro-ministro parece ter ficado abalado e afirmou que "Jo é um cara fantástico".
"Mas não concorda comigo sobre a União Europeia, porque é um tema que obviamente divide as famílias", declarou Boris, sem esconder a emoção.
No Parlamento, 21 deputados conservadores se rebelaram contra Johnson e o deixaram em minoria. Além disso, a oposição votou contra a proposta do chefe de Governo de convocar eleições legislativas para 15 de outubro.
Seis semanas depois de chegar a Downing Street, Johnson está encurralado, sem maioria e incapaz de cumprir sua grande promessa de retirar o país da UE em 31 de outubro a qualquer custo.
Na próxima segunda-feira (9), o Parlamento organizará uma nova votação sobre a possibilidade de antecipar as eleições. Não parece que Johnson conseguirá obter o apoio necessário, já que a oposição desconfia de uma possível "armadilha".
O primeiro-ministro "demonstrou ser um mentiroso manifesto e alguém que disse que prefere morrer em uma vala a impedir um Brexit sem acordo", declarou à rádio BBC a trabalhista Emily Thornberry.
Ela garantiu que a principal força de oposição voltará a votar contra as eleições, enquanto o novo adiamento do Brexit não for solicitado à UE e concedido pelo bloco, possivelmente na reunião de cúpula de 17 e 18 de outubro.
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