A Arábia Saudita corre contra o tempo para restaurar sua produção de petróleo afetada por ataques neste fim de semana, mas o golpe na principal instalação da indústria de petróleo no reino ameaça aumentar a preocupação de longo prazo com a segurança do suprimento na região e impulsionar os preços da commodity.
Analistas afirmaram que estavam buscando imaginar como seria a abertura das negociações no mercado futuro, na noite deste domingo, vislumbrando como reagiriam os preços do petróleo, mas argumentaram que era difícil projetar sem ter detalhes sobre a interrupção na produção saudita.
"O preço do petróleo pode subir de US$ 5 a US$ 10 por barril se o dano for grande", disse o presidente da empresa de consultoria Lipow Oil Associates, Andy Lipow.
As autoridades sauditas disseram que poderiam voltar aos níveis normais de produção de petróleo nesta segunda-feira, depois que um ataque no sábado desativou uma unidade de processamento importante do país e derrubou cerca de cinco milhões de barris de produção, o que corresponde à cerca de metade da produção da Arábia Saudita e 5% da oferta global.
Os mercados de petróleo não veem uma queda na produção nesse volume desde que o Iraque invadiu o Kuwait, em 1990. Esse conflito, que levou a uma intervenção militar internacional, viu a perda de quatro milhões de barris por dia.
Para a diretora da RBC Capital Markets, Helima Croft, os ataques, que foram reivindicados por rebeldes houthis do Iêmem, provavelmente foram feitos "em um esforço para aumentar os preços e enviar uma mensagem à Casa Branca", de que os EUA deveriam parar de apoiar a Arábia Saudita no conflito com o Iêmen. Mas ela sugere que, como resposta, "Trump pode simplesmente administrar a AIE" (Agência Internacional de Energia) com uma liberação da Reserva Estratégica de Petróleo.
As tensões entre o Irã e os EUA e seus aliados, incluindo a Arábia Saudita, ajudaram a aumentar em 12% a cotação do petróleo tipo Brent neste ano, para US$ 60, enquanto o óleo tipo WTI encerrou a sexta-feira em US$ 54,85 por barril. Mas o petróleo ainda está abaixo dos valores máximos de abril, com a preocupação de que a redução da demanda resulte em um excesso de oferta.
A AIE, um grupo que representa os principais países consumidores de energia que coordena tais lançamentos, disse estar em contato com as autoridades sauditas e os principais países produtores e consumidores. "Por enquanto, os mercados estão bem abastecidos com amplos estoques comerciais", afirmou o grupo. "A AIE está monitorando de perto a situação na Arábia Saudita." A última vez que o grupo realizou uma liberação emergencial de reservas estratégicas foi em 2011, quando uma guerra civil da Líbia retirou uma capacidade de produção de 1,7 milhão de barris por dia.
Os EUA, com sua Reserva Estratégica de Petróleo, geralmente agem ao lado da AIE, mas também podem agir por conta própria. O país agora está entre os maiores produtores mundiais de petróleo e gás. Pela primeira vez em décadas, o país estaria na posição de ter capacidade de ajudar a estabilizar o mercado de petróleo em caso de interrupção prolongada - uma reviravolta notável em relação aos anos 1990 e 2000, quando o país tinha uma dependência muito maior petróleo estrangeiro. Embora os EUA ainda importem volumes significativos, inclusive da Arábia Saudita, o presidente norte-americano Donald Trump poderia autorizar uma liberação emergencial de petróleo armazenado em estoque que ajudaria a mitigar os aumentos de preços, disseram analistas.
A Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA possui mais de 600 milhões de barris de petróleo. Trump também poderia aliviar temporariamente as sanções contra a Venezuela ou o Irã ou alterar as restrições comerciais que afetaram as exportações de petróleo dos EUA.
Mas uma interrupção sustentada da produção da Arábia Saudita de vários milhões de barris diários abalaria os mercados - que não têm outros atores grandes o suficiente para intervir e fornecer suprimento suficiente para cobrir o déficit a longo prazo.
Além disso, especialistas apontam que mesmo que as autoridades sauditas consigam restaurar a totalidade ou a maior parte da produção, o ataque aponta para uma nova e mais profunda vulnerabilidade ao suprimento de petróleo no Golfo Pérsico.
Os transportadores de petróleo estão pagando prêmios de seguro muito mais elevados, enquanto as taxas de transporte dispararam na região após uma série de ataques marítimos a navios carregados. A Arábia Saudita também tem sido alvo de ataques dos rebeldes houthis no Iêmen, mas o país até agora havia evitado um ataque das proporções do registrado no sábado.
A petrolífera estatal da Arábia Saudita, Aramco, é conhecida há muito tempo por adotar medidas robustas de redundância, que podem ajudar a Arábia Saudita a retomar rapidamente a produção. A ação deste fim de semana será um teste crucial para determinar a eficácia desses procedimentos.
Fonte: Dow Jones Newswires.