Jornal Estado de Minas

Vítimas de Fukushima indignadas com absolvição de ex-executivos da Tepco

"Incompreensível" e "horrível" foram algumas das qualificações usadas nesta quinta-feira pelas pessoas retiradas da região da usina nuclear de Fukushima, decepcionadas e furiosas com a sentença que absolveu três ex-executivos da empresa Tepco acusados de negligência diante do risco de tsunami.

"Não posso acreditar!", gritou uma mulher no tribunal ao ouvir o veredicto final.

Sua reação refletia o sentimento de centenas de outros cidadãos que permaneciam do lado de fora à espera do resultado.

"Isso é extremamente frustrante", declarou Ayako Oga, que foi evacuada de Fukushima para a região de Niigata (noroeste) após o desastre ocorrido em 11 de março de 2011.

"É algo incompreensível", afirmou uma mulher mais velha, com a voz embargada.

"Em oito anos e meio, muitas pessoas foram forçadas a deixar suas casas, sua terra natal e permanecerem deslocadas e incapazes de decidir onde morar", declarou ainda.

"Não poderia estar mais chateado", reagiu, por sua parte, um homem que fugiu de Fukushima depois da catástrofe. "Não pudemos recuperar nossa vida normal", acrescentou.

"Quem estava na chefia da empresa na ocasião deveria ser condenado".

Todos concordam que a ausência dos culpados os impede de dar um encerramento ao luto vivido pelo que aconteceu.

Akihiro Yoshidome, um ativista antinuclear de 81 anos, ficou surpreso com a decisão do tribunal.

"Eu me preparei para não obter uma vitória completa, mas isso é horrível", declarou à AFP.

"Isso demonstra que os tribunais japoneses não representam os interesses das pessoas".

- Difícil de prever -

A decisão em primeira instância emitida nesta quinta-feira não necessariamente encerra o processo e as partes civis querem que um recurso seja interposto.

Para os autores da queixa e seus apoiadores, o julgamento dos ex-executivos da Tepco, empresa que operava a usina nuclear de Fukushima, é a única oportunidade de ver indivíduos processados criminalmente pelo acidente nuclear que forçou mais de 150.000 habitantes a saírem de suas casas.

O caso foi complicado e, em duas ocasiões, os promotores se recusaram a tomar medidas legais, pois as evidências eram muito frágeis.

Finalmente, um processo civil forçou o Ministério Público a agir.

A denúncia refere-se a uma pergunta específica: os líderes da Tepco foram negligentes ao não tomar medidas adicionais diante de um risco de tsunami que poderia exceder a capacidade de resistência da fábrica de Fukushima Daiichi, localizada próxima ao mar, a 220 km de distância no nordeste de Tóquio?

Essa falta de medidas adicionais é a causa da gravidade do acidente e das mortes durante a evacuação?

Para os autores da ação, os dirigentes deveriam ter agido com base em estudos que mencionassem o risco de um tsunami de 15 metros.

No entanto, o tribunal considerou difícil prever esse cenário.

Antes de ouvir o veredicto, o juiz enfatizou que não havia consenso entre os especialistas sobre o alto risco de um tsunami de tal magnitude.

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