A pesca predatória, o aquecimento da água e a presença maciça de plástico nos oceanos, todos causados pelo homem, favorecem a proliferação de águas-vivas, que também invadem as praias.
As águas-vivas apareceram na Terra há cerca de 600 milhões de anos e se multiplicaram até o ponto de os especialistas estimarem que estão "gelificando" os oceanos, aponta um relatório de especialistas em clima da ONU que será publicado na quarta-feira (25).
Fabien Lombard, um especialista francês em Ecologia do Plâncton e das Águas-vivas, explica, porém, que este fenômeno não é uniforme.
No mar Negro, frente à costa da Namíbia, ou no mar do Japão, sua presença cresceu, mas é difícil saber se o mesmo também aconteceu em outras regiões.
Em 2014, criou-se uma base de dados mundial, mas continua sendo complicado quantificá-las.
Um dos primeiros habitantes do planeta, as águas-vivas vivem hoje em todos os mares e oceanos e em todas as profundidades, até nos abismos.
Elas fazem parte do zooplâncton e são constituídas de 95% a 98% de água. Não têm cérebro e são capazes de flutuar e de nadar, mas não de resistir às correntes marinhas.
De diversos tamanhos e cores, as águas-vivas se reproduzem de forma sexual, assexuada, ou por gemação: os ovos fecundados caem nos fundos marinhos, dando nascimento a um pequeno animal, um pólipo, que se multiplica.
Uma mudança de temperatura, por exemplo, ativa sua divisão, dando lugar a várias pequenas águas-vivas.
Até agora, a proliferação de águas-vivas, chamada de "bloom", era constatada a intervalos regulares. Este era o caso, por exemplo, a cada 12 anos da espécie "pelagia" no Mediterrâneo, segundo Anaïs Courtet, bióloga do Aquário de Paris.
"Mas hoje em dia este ciclo já não se repete, e há todos os anos", relata.
- "Quantidades incríveis" -
A proliferação destes animais gelatinosos se deve a vários fatores, aponta Philippe Cury, pesquisador em Biologia Oceanográfica do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento da França, que cita entre eles a sobrepesca, a pesca de arrasto e o aquecimento dos oceanos.
"Estes três fatores fazem as populações de águas-vivas dispararem. Isso sempre aconteceu, mas agora é muito mais frequente e observamos às vezes quantidades incríveis", adverte este cientista.
A sobrepesca elimina alguns de seus predadores diretos, como o atum e as tartarugas capturadas de forma acidental, mas também os peixes que se alimentam de plâncton. Em sua ausência, as águas-vivas dispõem de mais quantidade de alimento.
O tipo de pesca que consiste em arrastar uma grande rede pelas profundidades marinhas também é problemática. Ao raspar os animais que vivem nos fundos marinhos, como esponjas e corais, esta pesca os "homogeneíza" e deixa mais espaço para os pólipos se multiplicarem, segundo Cury.
Os pólipos também gostam das construções humanas, como boias, ou plataformas de petróleo. "Adoram o plástico", afirma Lombard.
Resíduos de alguns poucos centímetros podem servir de balsa para estes animais colonizarem novos espaços.
A mudança climática e a acidificação dos oceanos tampouco lhes são "desfavoráveis", ao contrário de outras espécies, afirma Courtet.
A multiplicação de águas-vivas afeta várias atividades humanas como o turismo, a pesca, a piscicultura, as fábricas de dessalinização e os sistemas de esfriamento de instalações nucleares, que obstruem estes animais.
Em 2007, uma fábrica de salmões da Irlanda do Norte foi dizimada pelas águas-vivas que morderam os peixes, incapazes de fugir.
No Japão, os pescadores às vezes ficam em terra, porque as águas-vivas são muito numerosas e eles temem perder suas redes.
Para evitar uma invasão, "são necessários ecossistemas que funcionem normalmente, com uma grande biodiversidade", diz Cury.
"Poderíamos sair para pescá-las" para comê-las, ou nos livrarmos delas, "mas se reproduzem muito rapidamente", completou.