Surgem em diferentes pontos de Buenos Aires centenas de "Evitas", coreografias para "Flashmobs" e frutas distribuídas gratuitamente. Muitos argentinos tentam impedir a reeleição do liberal Mauricio Macri nas eleições presidenciais de outubro das protestando nas formas mais criativas.
Fantasiados com vestidos de tons pastéis, típicos de 1930, e usando um coque imitando Eva Perón, homens e mulheres pularam e dançaram esta semana ao ritmo de uma versão feminista da marcha peronista, o emblemático hino deste movimento político, na praça do Congresso argentino.
"Por essa grande Argentina que nunca nos traiu, peronismo com Cristina", repetiam em apoio à ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015). "Nós, moças peronistas sabemos o que queremos e lutaremos sem medo para vencer a eleição, Eva Perón, Eva Perón", cantavam.
Kirchner, de 66 anos, acompanha como candidata a vice-presidente o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández, favorito para vencer as eleições presidenciais de 27 de outubro, segundo as últimas pesquisas de opinião, após superar Macri com mais de 15 pontos nas primárias de 11 de agosto.
"Precisávamos participar de ações que nos envolvessem muito fortemente com essa eleição e são ações artísticas", explicou Maria Teresa García Bravo, de 45 anos, uma das "Evitas", que trabalha como professora na Universidade Nacional de Lanús.
- "Não consigo mais pagar o aluguel" -
A Argentina, que amarga uma recessão desde 2018 com inflação alta (30% até agosto), o peso em queda livre e um aumento da pobreza (32% no final do ano passado), vive uma vez mais uma profunda crise econômica que atingiu em cheio o presidente liberal nas primárias.
Desde então, marchas, protestos e piquetes se tornaram cotidianos e paralisam várias províncias do país com reivindicações para que o governo combata a inflação e o desemprego (10,6%).
O hit eleitoral #Sivosquerés (Se você quiser), uma cumbia antiMacri, causa furor em Buenos Aires, com milhares de pessoas dançando nas ruas de forma perfeitamente descoordenada. As manifestações são convocadas nas redes sociais com as instruções da coreografia para acompanhar a música chiclete.
É um "flashmob", fenômeno que já parou as ruas de Londres, Nova York e Barcelona, e pegou na campanha eleitoral argentina.
"Ya no llego a pagar el alquiler/ no sé qué hacer, no sé qué hacer/ todo el día laburando y laburando/ encima subió el bondi (autobús) y me están precarizando" (Não consigo mais pagar o aluguel/ não sei o que fazer, não sei o que fazer/ todo dia trabalhando e trabalhando/ ainda por cima o busão subiu e estão me rebaixando), diz a canção de Sudor Marika, grupo de "cumbia dissidente", criada com o objetivo de "criticar" Macri.
- "Frutaço" -
No começo do ano, a Federação de Produtores de Rio Negro e Neuquén se instalou na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede da Presidência, para distribuir 20.000 quilos de peras e maçãs como forma de protesto - o chamado 'frutaço' -, devido à forte crise que o setor atravessa. Somaram-se à iniciativa produtores de laranja e tangerina.
Há duas semanas, organizações sociais acamparam por 48 horas para exigir um plano de emergência alimentar, que contempla 50% dos recursos para refeitórios comunitários, medida recentemente aprovada pelo Parlamento.
Grupos de manifestantes também invadiram vários shopping centers, entre eles o Patio Bullrich, um dos mais sofisticados da capital argentina, em uma espécie de protesto "relâmpago" para exigir usando megafones "a emergência alimentar". O protesto pegou os turistas de surpresa, assim como vários argentinos, que gritavam de volta: "vão trabalhar!".
- "Sim, podemos" -
Em um contexto cada vez mais incerto e de falta de confiança, governo e oposição se acusam mutuamente de fomentar o pânico e aprofundar a crise no país mais endividado da América Latina.
O presidente Macri, que herdou um país com grandes desequilíbrios, convocou os argentinos a demonstrarem seu apoio em uma marcha prevista para este sábado em um bairro nobre da capital, sob o slogan #Sísepuede (Sim, podemos), que capitalizou na campanha eleitoral de 2015.
Macri tenta repetir o sucesso da convocação da manifestação do fim de agosto, quando milhares de pessoas convocadas pelas redes sociais o apoiaram no centro de Buenos Aires, repetindo palavras de ordem contra Cristina Kirchner, submetida a vários processos judiciais por suspeita de corrupção.
"A eleição ainda não aconteceu", tuitou o presidente na convocação do ato.