O Brasil foi sacudido nesta sexta-feira (27) por uma confissão rocambolesca: o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, assegurou ter entrado armado um dia no Supremo Tribunal Federal disposto a matar um dos juízes do colegiado, Gilmar Mendes, para em seguida se suicidar.
"Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha", admitiu o ex-procurador-geral (2013-2017), uma figura-chave na megaoperação anticorrupção Lava Jato.
A confissão remonta a maio de 2017 e consta de um trecho de suas memórias, 'Nada menos que tudo', que estará à venda na semana que vem.
"Não ia ser ameaça, não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar", explicou em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo para promover o livro.
Segundo o ex-procurador-geral, de 63 anos, a intenção de matar Mendes lhe ocorreu depois que o juiz divulgou uma história mentirosa sobre sua filha.
Janot tinha pedido a recusa de Mendes na análise de um recurso de habeas corpus do empresário preso Eike Batista, com o argumento de que a esposa do juiz, Guiomar Mendes, trabalhava no escritório de advocacia de Batista.
De acordo com Janot, a mão de Deus o impediu de atirar.
- "Ajuda psiquiátrica"
A explosiva revelação desatou todo tipo de reação na classe política e judicial do país.
Em nota, Gilmar Mendes se disse surpreso com a declaração de Janot e lhe recomendou "ajuda psiquiátrica".
"Dadas as palavras de um ex-procurador-geral da República, nada mais me resta além de lamentar o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas", afirmou Mendes.
Janot, cuja inimizade com Mendes era notória, denunciou durante sua gestão cinco ex-presidentes, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), do PT, e Michel Temer (2016-2018), do PMDB.
Polêmico e adepto de frases de impacto, Janot foi muito questionado por conceder um crédito excessivo aos delatores que colaboram com a Justiça em troca de redução da pena, uma prática muito recorrente na Lava Jato, que revelou uma ampla rede de corrupção centrada na Petrobras.
Na noite desta sexta, o caso ganhou nova dimensão quando, a pedido de outro juiz do STF, Alexandre de Moraes, a Polícia Federal (PF) fez buscas no escritório e na casa do ex-procurador em Brasília para, entre outras coisas, apreender sua arma.
Moraes também suspendeu o porte de armas de Janot e lhe proibiu se aproximar dos integrantes da máxima corte.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, reagiu com tom irônico: "Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar ministro do Supremo. Quem vai querer investir num país desse?".
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