Jornal Estado de Minas

Opositor Abdullah Abdullah reivindica vitória nas eleições no Afeganistão

O atual primeiro-ministro afegão Abdullah Abdullah, principal adversário do chefe de Estado Ashraf Ghani, reivindicou nesta segunda-feira a vitória nas eleições presidenciais de sábado.

"Temos o maior número de votos nessas eleições", disse Abdullah durante uma entrevista coletiva na qual afirmou que "não haverá segundo turno".

A Comissão Eleitoral Independente (CIS) ainda não divulgou os números da participação nessas eleições, cujos resultados preliminares serão publicados em 19 de outubro.

Um dos diretores da comissão, Habib Rahman Nang, reagiu imediatamente às declarações de Abdullah para lembrar que "nenhum candidato tem o direito de reivindicar vitória".

"De acordo com a lei é a Comissão Eleitoral Independente que decide quem é o vencedor", afirmou o chefe da comissão.

Abdullah Abdullah já havia contestado os resultados das eleições de 2014, marcadas por irregularidades e que levaram a uma grave crise política.

Após a intervenção dos Estados Unidos, o problema foi resolvido com a concessão do cargo de primeiro-ministro a Abdullah.

O primeiro turno das presidenciais ocorreu sem muitos incidentes, mas com uma baixa participação dos eleitores.

Inúmeros observadores independentes estimaram que as eleições foram mais transparentes e mais bem organizadas que as anteriores.

"Os resultados serão anunciados pela CEI, mas obtivemos o maior número de votos", afirmou Abdullah.

O diretor da comissão eleitoral lembrou que "a CEI anunciará os resultados preliminares primeiro (em 19 de outubro) e, em seguida, o comitê de reclamações examinará as queixas que forem submetidas e os resultados finais serão anunciados (em 7 de novembro) pela CEI".

Dezoito candidatos disputam o cargo de chefe de Estado e cerca de 9,6 milhões de eleitores foram convocados para participar das eleições.

Se nenhum dos candidatos receber mais de 50% dos votos, será realizado um segundo turno.

O medo de ataques e fraudes influenciou a abstenção, de acordo com muitos testemunhos dos cidadãos.

O Talibã havia multiplicado as advertências, a fim de dissuadir os eleitores de ir às urnas.

Os insurgentes reivindicaram 531 ataques em todo o país no fim de semana.

O governo não forneceu números e o Instituto de Pesquisa da Rede de Analistas Afegãos (AAN) informou mais de 400, com base nos dados de seus analistas, observadores estrangeiros e fontes públicas.

A comissão eleitoral anunciou no domingo que, de acordo com os números disponíveis para metade das mesas eleitorais (2.597 de um total de 4.905), pouco mais de 10% dos eleitores foram às urnas.

O menor nível de participação até agora foi de 38% no primeiro turno das eleições presidenciais de 2009.

Harun Mir, pesquisador independente de Cabul, minimizou as consequências da baixa participação e considerou que "o próximo governo terá um mandato mais forte que o atual, porque as eleições foram muito mais limpas do que as anteriores".

Mas muitos eleitores temem que as irregularidades que marcaram as eleições de 2014 se repetissem.

A Comissão Independente de Direitos Humanos (AIHRC) destacou, no entanto, "muitos pontos positivos", como o melhor treinamento dos funcionários eleitorais.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, quis recordar "todos os afegãos que exerceram seu direito democrático", e os cumprimentou "por seu compromisso em eleger seus dirigentes através das urnas".

A campanha eleitoral foi afetada pelas recentes negociações entre os Estados Unidos e o Talibã sobre a retirada das tropas americanas do país.

O presidente dos EUA, Donald Trump, interrompeu as discussões repentinamente no início de setembro, quando a conclusão de um acordo parecia iminente.

Um dos objetivos dessas eleições é que o futuro chefe de Estado tenha legitimidade suficiente para se tornar um interlocutor inevitável em possíveis negociações de paz com o Talibã.

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