Mario Draghi se despede nesta segunda-feira do Banco Central Europeu (BCE) após oito anos de um mandato marcado por várias crises e deixa para sua sucessora, Christine Lagarde, uma entidade claramente dividida.
A chanceler alemã Angela Merkel, bem como os presidentes Emmanuel Macron (França) e Sergio Mattarella (Itália) devem prestar homenagem ao "Super Mario", apelido que foi conquistado por sua determinação e criatividade em preservar o euro.
A saída do italiano entrará em vigor em 31 de outubro.
Lagarde, ex-diretora-gerente do FMI e primeira mulher a presidir o BCE, já anunciou sua intenção de agir sobre a cultura da entidade, para enfatizar mais a igualdade de gênero e as ações sobre a questão climática.
A futura chefe do BCE, uma advogada de formação, também deve defender vigorosamente políticas orçamentárias nacionais mais ambiciosas e melhor coordenadas, como Draghi tentou, mas sem muito sucesso.
Mas a tarefa mais urgente de Lagarde será suavizar as divisões óbvias do conselho de governadores, o órgão que decide o nível das taxas de juros na área do euro.
- Não se dê por vencido -
"Nunca se dê por vencido" foi a frase com a qual Draghi resumiu na quinta-feira (24) seus oito anos à frente do BCE, falando em coletiva de imprensa.
A frase, que deliberadamente deixa "aos historiadores" o balanço detalhado de sua política monetária, lembra uma que já entrou para a posteridade: quando ele se comprometeu em 2012 a fazer "o que for necessário" ("whatever it takes") para proteger a moeda única.
"Se há uma coisa da qual me orgulho é a maneira como o conselho de governadores e eu cumprimos consistentemente nosso mandato. Coletivamente, podemos ter muito, muito orgulho", insistiu Draghi.
O banqueiro italiano, no entanto, não conseguiu aproximar a inflação da zona do euro de sua meta de 2%, deixando a tarefa complexa de herança para Lagarde. Ela terá de implementar as últimas medidas anunciadas em setembro, no âmbito de uma instituição profundamente dividida.
O arsenal de medidas revelado no final do verão no hemisfério norte, que inclui um corte nos juros e uma reativação controversa das recompras de dívidas, recebeu críticas dos presidentes dos bancos centrais na Alemanha e na Holanda.
Muitas vezes considerado um solitário que impõe suas opiniões, muitos acham que Draghi salvou o euro em meio à crise da dívida.
Sob seu mandato, "a deflação e o desemprego declinaram" e o BCE se tornou "um banco central moderno com uma panóplia de ferramentas novas e flexíveis", resumiu Frederik Ducrozet, estrategista da Pictet Wealth Management.
Mas Draghi pagou o preço de sua política de dinheiro abundante e barato, muito criticada no norte da Europa, especialmente na Alemanha e na Holanda.
O presidente do instituto econômico alemão Ifo, Clemens Fuest, lamentou que o BCE "usasse a alavanca para estimular a inflação", correndo o risco de causar bolhas financeiras, prejudicando os poupadores e exonerando os governos "de suas responsabilidades".