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Estado de Minas

Nosso bolso, a vítima da guerra do streaming


postado em 29/10/2019 09:25

Mery Montenegro usa uma calculadora: a seu orçamento de quase 1.500 dólares anuais de TV a cabo e assinatura da Netflix, Hulu e Amazon, agora tem que somar o novo canal de streaming Disney+ por conta de suas duas filhas.

Victoria, a mais velha de seis anos, pergunta todos os dias quando entrará no ar a nova plataforma que oferece um impressionante catálogo de filmes e séries de todos seus estúdios.

A resposta é 12 de novembro.

Mery, que trabalha em uma agência de publicidade em Washington DC, já está conformada. Nesse dia, começa a pagar mais 6,99 dólares mensais.

Disney+, HBO Max (AT&T;), Peacock (Comcast), Apple TV+ e a plataforma de vídeos curtos, Quibi: novos atores nesta guerra do streaming que é travada ante o fato de que os americanos preferem investir mais nesse tipo de entretenimento no que na TV a cabo.

"Isso terá um grande impacto no orçamento das pessoas", diz Tom Nunan, produtor de cinema, vencedor do Oscar e professor da Escola de Teatro, Cinema e Televisão da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

"Não acho que haja espaço suficiente para a assinatura de todos esses streamers e o americano médio".

Em uma pesquisa da empresa Deloitte, publicada em março, 69% dos consultados respondeu que tinha ao menos uma assinatura de streaming, ao passo que 65% responderam TV a cabo.

Um total de 43% indicou que tinha os dois: neste grupo, está Mery, de 36 anos, mas não por vontade própria. Ela paga 90 dólares pela TV fechada e quase não a usa, a não ser para ver notícias ou esportes.

Aos 90 dólares, acrescenta 5,99 dólares para o Hulu, a assinatura mais econômica e com comerciais, e 16 dólares para a Netflix, que ela considera fundamental.

"Vejo no metrô quando vou para o trabalho, cozinhando, para ver algo em casa", explica.

Pela Amazon paga os 12,99 dólares que custa a afiliação ao programa Prime da gigante do comércio eletrônico, que inclui o serviço de streaming. Também serve para alugar filmes para não ter que ir ao cinema, pois prefere vê-los em casa, com um copo de vinho, enquanto as filhas dormem.

Isso dá 124,98 dólares, aos quais somará os 6,99 dólares da Disney+. Total: 131,97 dólares mensais, 1.583,64 dólares anuais.

- Ironia do cabo -

Mery não gastar todo o salário com assinaturas, mas as opções de streaming são praticamente ilimitadas.

Com o YouTube, que tem uma versão Premium por 11,99 dólares, até as plataformas para amantes da Broadway ou luta livre, passando pelas ligas de todos os esportes profissionais com pacotes diferentes para os fãs.

O jornal Los Angeles Times contou 40 opções de streaming, que, no total, custariam 353,43 dólares mensais, mas o relatório da Deloitte menciona até 300 serviços de vídeo streaming.

Quase metade dos entrevistados (47%) "expressou frustração com o crescente número de assinaturas", o que torna "mais difícil encontrar conteúdo", afirmou o estudo.

"No início, não foi difícil decidir, havia duas opções: Netflix ou Amazon", lembrou Nunan.

"Mas não acho que o usuário médio assinará seis ou sete", comenta Gene Del Vecchio, professor de marketing da Universidade do Sul da Califórnia (USC).

Ele acha que os usuários acabarão com a mesma reclamação que hoje os leva a cortar o cabo: muito dinheiro para muitos programas que não conseguem ver.

"O que pode acontecer é que eles queiram um menu 'à la carte', programas individuais sem pagar por todo o resto", afirma.

A Amazon já permite que se compre capítulos ou temporadas, sem se inscrever no Prime Video.

Del Vecchio também acredita que as assinaturas de streamers subirão na próxima década para financiar a produção original e que tentarão acabar com o máximo de uma conta para vários parentes e amigos, para conquistar novos usuários dispostos a pagar individualmente.

Outra estratégia, novamente, muito semelhante à do cabo, será oferecer contratos anuais com desconto. A Disney + já faz isso, assim como a Amazon.

"É irônico porque teremos algo igual à indústria da TV a cabo de novo", conclui.


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