A reinvenção da moeda, do carro, do remédio ou da habitação são algumas das novidades que as gigantes digitais e as start-ups apresentam na Web Summit, que começou nesta segunda-feira à noite em Lisboa, desta vez dominada por um tom político.
As discussões começaram com uma videoconferência a partir da Rússia com Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA).
Snowden marcou o tom ao advertir sobre a "concentração de poder" que emana da colaboração entre poderes públicos e grandes plataformas digitais.
"Se se cria um poder implacável, como se controla esse poder quando é empregado contra a população?", questionou, em um momento no qual os Estados Unidos exortaram os gigantes tecnológicos a buscar uma "solução técnica" para garantir que as forças de segurança possam ter acesso aos dados criptografados em caso de crimes graves.
Snowden acabou de publicar um livro no qual relata os motivos que o levaram em 2013 a transmitir dezenas de milhares de documentos secretos para vários veículos, revelando a existência de um sistema mundial de vigilância para comunicações e internet.
A gigante chinesa de telecomunicações Huawei, proibida nos Estados Unidos que a acusa de espionagem, também está presente no evento. A empresa enviou o CEO Guo Ping em busca de apoio do mundo tecnológico.
- Chamados à regulação -
Para estimular os desenvolvedores a se unirem a sua plataforma Huawei Mobile Services (HMS), que deve substituir os serviços americanos aos que a empresa não tem acesso, Ping anunciou na sala principal da Web Summit vários investimentos, incluindo um programa de 1,5 bilhão de dólares de cinco anos dedicado a oferecer-lhes formação.
A edição de 2019 desta grande cúpula mundial de tecnologia reunirá, como no ano passado, 70.000 participantes.
Haverá centenas de conferências que abrangerão tópicos variados como mobilidade, aplicativos médicos, robótica, criptomoedas, publicidade e conquista da mídia.
Além disso, multiplicaram-se os apelos para impor impostos, regulamentações e até o desmantelamento de gigantes do setor.
"A tecnologia se tornou hiperpolítica", disse à AFP Paddy Cosgrave, fundador e diretor da Web Summit.
- A voz do governo Trump -
Na quinta-feira, a comissária europeia Margrethe Vestager, que no ano passado defendeu em Lisboa a imposição de impostos sobre os gigantes da economia digital em escala continental, terá na quinta-feira a última palavra.
"Margrethe Vestager é incrivelmente popular ... porque tenta criar condições equitativas para os inovadores", afirma Cosgrave depois de descrevê-la como "a pessoa mais importante no setor de tecnologia".
Conhecida por sua intransigência para com o grupo GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon), ao qual impôs multas, a dinamarquesa foi reinvestida este ano em sua posição como Comissária da Concorrência e também obteve o portfólio Digital e a vice-presidência da Comissão.
Vestager falará logo após Michael Kratsios, encarregado da política de tecnologia na Casa Branca, a voz do governo Donald Trump nessa área.
Tanto Kratsios quanto Trump são críticos do GAFA, mas hostis a seu desmantelamento e aos planos de tributar seus lucros no exterior.
Uma questão que também será abordada por Pascal Saint-Amans, diretor do Centro de Política e Administração Tributária da OCDE, que está trabalhando em um projeto para impor impostos a gigantes digitais e multinacionais.