Por sua retórica, Donald Trump se alienou de uma parcela significativa do eleitorado negro. Diante da proximidade da eleição presidencial de 2020, ele se lança, porém, em uma empreitada de sedução que provoca - sem surpresa - vivas reações contrárias.
Em busca pela reeleição, o republicano lança nesta sexta-feira (8), de Atlanta (Geórgia, sul), a coalizão "Votos negros em Trump".
"Os afro-americanos nunca tiveram um melhor defensor do que o presidente Trump", garante Katrina Pierson, que integra sua equipe de campanha.
A frase encontra fácil resistência neste mesmo eleitorado, ainda que o magnata nova-iorquino mencione, frequentemente, os mínimos históricos de desemprego entre os negros.
Segundo uma pesquisa da Universidade Quinnipiac divulgada em julho passado, 80% dos eleitores negros consideram que o presidente americano é racista.
Em 2016, o magnata do setor imobiliário usou a carta do desencanto de uma parte dos afro-americanos com o partido de Barack Obama, com uma frase de efeito repetida à exaustão: "O que vocês têm a perder?".
Obteve em torno de 8% dos votos desse eleitorado, contra os 88% conquistados por sua rival, a democrata Hillary Clinton.
Desde que chegou à Casa Branca, seus repetidos ataques contra lideranças afro-americanas não contribuíram em nada para reduzir as tensões.
A última delas foi uma série de tuítes agressivos contra o congressista Elijah Cummings, membro da Câmara de Representantes e uma emblemática e carismática figura dessa comunidade, que veio a falecer.
"Uma desordem nojenta, infestado de ratos e de outros roedores", um "lugar muito perigoso e sujo", onde "nenhum ser humano deveria viver": o presidente americano descreveu um quadro sombrio e desolador de Baltimore, cidade industrial de Maryland de maioria negra e reduto eleitoral de Cummings.
O cofundador da organização Black Voters Matter Cliff Albright rejeita a iniciativa de campanha de Trump.
"É um embuste, é hipócrita, é um insulto", afirma, denunciando as palavras e os atos do presidente.
Mas qual é a estratégia de Donald Trump? Ele realmente tem esperança de avançar no eleitorado afro-americano, que hoje representa em torno de 13% da população dos Estados Unidos?
- "Criar confusão" -
"Ele não está tentando, de fato, ganhar votos dos afro-americanos", explica Cliff Albright à AFP. "Ele quer, acima de tudo, minimizar sua participação", completa.
"Criar uma espécie de confusão, martelando: 'vocês não têm nada a perder', pode ter um efeito na margem", afirma Albright, acrescentando que o objetivo é "levar 1%, 2% ou 5% dos eleitores negros a ficarem em casa", e não irem votar.
Em 2016, a mobilização do eleitorado negro por Hillary Clinton foi, claramente, mais fraca em vários estados-chave, entre eles Wisconsin, que, para surpresa geral, mudou de lado.
Em 2020, os democratas esperam remobilizar essa fatia do eleitorado para voltar a atingir níveis próximos das duas eleições de Barack Obama, em 2008 e em 2012.
Tudo dependerá também, em certa medida, do candidato democrata que enfrentará Trump.
O ex-vice-presidente Joe Biden goza de uma sólida popularidade entre os eleitores afro-americanos, devido, sobretudo, à sua excelente relação com Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Por enquanto, seus adversários na corrida das primárias, como a senadora progressista Elizabeth Warren e o jovem prefeito Pete Buttigieg, provocam menos entusiasmo.