Autoridades da Bolívia confirmaram a morte de pelo menos oito pessoas nos protestos ocorridos ontem, em Cochabamba, região central do país, após repressão da polícia e das Forças Armadas contra uma marcha de apoiadores do ex-presidente Evo Morales, que renunciou ao cargo no domingo passado. O representante da Defensoria do Povo da Bolívia em Cochabamba, Nelson Cox, afirmou à rede CNN que outras 125 pessoas ficaram feridas e 110 manifestantes foram detidos durante a manifestação, considerada a mais violenta até agora desde a renúncia e saída de Morales do país.
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O agora ex-presidente está asilado no México desde terça-feira. O comando do país foi assumido pela senadora de oposição Jeanine Áñez, do partido Unidad Demócrata, que se declarou presidente da Bolívia. Ela removeu a cúpula militar e prometeu eleições “no menor tempo possível”. Pelo Twitter, Evo pediu “às forças armadas e à polícia boliviana que parem o massacre”. Ele também descreveu o governo interino liderado por Jeanine Anez como uma ditadura.
Segundo a polícia, os manifestantes estavam portando armas de fogo e objetos contundentes, além de atirarem coquetéis molotov contra as forças de segurança, o que também teria resultado em vários feridos entre policiais e soldados. A repressão da marcha começou sobre uma ponte que une os municípios de Sacaba e Cochabamba, quando um grupo de cerca de 400 agricultores tentava chegar ao centro da cidade. Militares e policiais tentaram impedir a passagem dos manifestantes, mas não houve acordo entre as partes, desatando os distúrbios.
A maioria dos mortos e feridos foi baleada, disse Guadalberto Lara, diretor do Hospital México. Ele classificou o episódio como a pior violência que já viu em seus 30 anos de carreira. Manifestantes furiosos e parentes das vítimas se reuniram no local dos tiroteios, gritando “Guerra civil, agora!”
Alerta da ONU
A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, denunciou ontem “o uso desnecessário e desproporcional da força pela polícia e pelo Exército” que pode levar a situação na Bolívia a “sair do controle”. Bachelet destacou que 14 pessoas morreram nos seis dias seguintes ao exílio do ex-presidente Evo Morales no México e lamentou que as mortes parecem ser resultado do “uso desnecessário e desproporcional da força”.
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“Condeno essas mortes. Trata-se de um desenvolvimento extremamente perigoso, pois longe de apaziguar a violência, é possível que a agrave”, acrescentou. “Realmente me preocupa que a situação na Bolívia possa sair do controle se as autoridades não administrarem cuidadosamente, de acordo com as normas e padrões internacionais para o uso da força, e com um respeito pleno aos direitos humanos”, declarou a Alta Comissária.
Ela acrescentou que “o país está dividido e pessoas dos diversos setores do espectro político se encontram indignadas. Em uma situação como esta, as ações repressivas por parte das autoridades simplesmente avivaram mais essa ira e podem colocar em risco qualquer caminho de diálogo possível”. A Alta Comissária pediu dados sobre o número de presos, feridos e mortos durante os protestos e solicitou “investigações rápidas, imparciais, transparentes e completas, para garantir uma prestação de contas total”, indica o comunicado. Além disso, pediu para as autoridades bolivianas deixarem de usar as forças militares em operações de ordem pública, mesmo durante protestos.