As catástrofes climáticas são cada vez mais visíveis e os pedidos de ação, cada vez mais ruidosos, mais os signatários do acordo de Paris, que se encontrarão em Madri a partir da segunda-feira, tomam seu tempo.
Um tempo que o mundo não tem mais.
"#Time for action". O slogan da 25ª reunião anual da ONU sobre o clima (COP25) é translúcido. "Nós devemos acelerar o ritmo com medidas concretas", pede a ministra chilena do Meio Ambiente, Carolina Schmidt, cujo país cedeu à Espanha a organização da conferência, em meio à maior convulsão social em décadas.
Será que os negociadores vão ouvir os gritos dos jovens que foram às ruas aos milhões nos últimos meses, inspirados pela ativista sueca Greta Thunberg?
Muitos observadores acreditam que o evento, transferido em caráter de urgência a Madri devido à convulsão social no Chile, não estaria à altura dessa urgência declarada.
"Esta COP corre o risco de não conseguir atender a essas expectativas porque sobre esta questão a resposta virá no ano que vem", antecipa Lola Valejo, analista do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e de Relações Internacionais (IDDRI).
O acordo de Paris, assinado em 2015, prevê que os cerca de 200 países signatários revisem até o fim de 2020 seus compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa. Muitos deles estão, portanto, com os olhos fixos no calendário do ano que vem.
Por enquanto, 68 países se comprometeram a revisar para cima seus compromissos até 2020. Mais estes países respondem apenas a 8% das emissões globais, segundo especialistas que duvidam que a China ou a União Europeia vão expor suas intenções antes de meados do ano que vem. Sem falar nos Estados Unidos, que acabam de confirmar sua saída do acordo de Paris em 2020.
Apesar disso, a advertência feita nesta terça-feira pela ONU nunca foi tão clara - e sombria, ao mesmo tempo.
Para que a esperança de limitar o aquecimento global a +1,5°C, meta ideal prevista no acordo de Paris, não se esfumace, deve-se reduzir anualmente as emissões de CO2 em 7,6% entre 2020 e 2030.
Mas por enquanto, não há "nenhum indício" de que estas emissões geradas particularmente por fontes de energia fóssil, que aumentam a cada ano, vão começar a baixar nos próximos anos.
Em vista do tamanho da tarefa que exigirá uma verdadeira transformação da sociedade, "nós não podemos aguardar até a COP26", afirma em declarações à AFP Carlos Fuller, negociador-chefe do grupo dos Estados insulares, particularmente vulneráveis às mudanças climáticas.
- "Como sonâmbulos..." -
Elevação do nível dos mares, derretimento das geleiras, furacões mais poderosos, ecossistemas devastados, um milhão de espécies ameaçadas... Vários informes da ONU particularmente assustadores lançaram luz, nos últimos meses, sobre os impactos devastadores das atividades humanas no planeta.
O mundo já aqueceu +1°C desde a era pré-industrial. E cada grau suplementar aumentará a proporção dos desajustes climáticos.
No ritmo atual, a temperatura poderia escalar até 4º ou 5°C até o fim do século. E mesmo se os países respeitarem seus compromissos atuais, os termômetros podem superar os +3°C.
"Caminhamos como sonâmbulos rumo à catástrofe climática. Devemos despertar e agir com urgência", adverte Alden Meyer, especialista da União de Cientistas Preocupados, reivindicando que esta COP se dê conta da gravidade da "crise climática".
Mas com uma presidência chilena fragilizada, algumas negociações também correm o risco de se tornar mais complicadas, sobretudo na conclusão do manual de uso do acordo de Paris.
No ano passado, a COP24, em Katowice, Polônia, dotou o pacto climático das regras necessárias à sua implementação, com exceção de um dossiê complicado e muito controverso sobre o mercado de carbono.
Outro tema recorrente de discórdia que voltará à tona: a assistência aos países em desenvolvimento para se adaptarem aos impactos e reduzir suas emissões. Os países do Norte prometeram aportar estes financiamentos a 100 bilhões de dólares ao ano até 2020. Segundo o último relatório da OCDE, estas cifras estão em alta, com 71,2 bilhões em 2017.
Mas os países do hemisfério Sul reivindicam hoje uma aceleração das negociações sobre o financiamento de "perdas e danos" sofridas, que um grupo de ONGs estimou recentemente em 300 bilhões ao ano em 2030.
Alguns países reivindicam a adoção de um mecanismo específico de financiamento, que poderia ser alimentado, por exemplo, por uma taxa sobre as passagens de avião internacionais, segundo os observadores.