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Estado de Minas

Dois meses de protestos contra o governo no Iraque


postado em 01/12/2019 17:06

O Iraque é cenário, há dois meses, de um movimento de protesto contra o governo e o vizinho Irã, que já deixou mais de 420 mortos e milhares de feridos em Bagdá e no sul xiita do país. Seguem abaixo as principais fases do movimento:

- Redes sociais -

Em 1º de outubro, mais de mil manifestantes se reuniram em Bagdá e em várias cidades do Sul para protestar contra a corrupção, o desemprego e a decadência dos serviços públicos.

As manifestações foram convocadas a partir das redes sociais e dispersadas com jatos d'água, gás lacrimogêneo e balas de borracha. Mais tarde, foram ouvidos tiros na capital.

No dia seguinte, as autoridades fecharam a Zona Verde de Bagdá, onde se encontram as principais instituições do país e a embaixada dos Estados Unidos. Foi decretado toque de recolher na capital e em diversas cidades do Sul.

- Medidas especiais -

Em 3 de outubro, em Bagdá, os blindados das forças especiais entraram em ação para repelir a multidão. As forças de segurança atiraram para o chão, mas as balas atingiram os manifestantes.

A Internet foi cortada em grande parte do país.

As forças de segurança acusaram "franco-atiradores não identificados" de terem atirado nos manifestantes e em policiais em Bagdá.

O influente líder xiita Moqtada Sadr, que solicitou a seus apoiadores que organizassem "protestos pacíficos" (do inglês "sit-in"), pediu ao governo que renunciasse, assim como "eleições antecipadas sob a supervisão da ONU".

No dia 6, o governo anunciou medidas sociais, variando de assistência habitacional a subsídios para jovens desempregados.

- 'Queda do regime' -

No dia 24, as manifestações pedindo a "queda do regime" foram retomadas, na véspera do primeiro aniversário da posse do governo de Abel Abdel Mahdi.

Em 48 horas, pelo menos 63 pessoas morreram, a maioria no sul, onde manifestantes atacaram e até incendiaram as sedes de partidos, de grupos armados e gabinetes de funcionários de alto escalão, segundo a Comissão dos Direitos Humanos do governo.

No dia 26, a ONU acusou "entidades armadas" de quererem "sabotar manifestações pacíficas".

Os deputados de Moqtada Sadr anunciaram um protesto por tempo indeterminado no Parlamento, unindo-se à oposição.

No dia 28, milhares de estudantes invadiram as ruas de Bagdá e de várias cidades do Sul. Sindicatos de professores e advogados anunciaram greves.

Durante a noite, milhares de iraquianos desafiaram o toque de recolher imposto pelo Exército em Bagdá.

- 'Fora Irã!' -

Em 30 de outubro, o guia supremo do Irã, Ali Khamenei, chamou "aqueles que se sentem preocupados" para "responderem à insegurança".

Em 1º de novembro, a autoridade máxima xiita no Iraque, o grande aiatolá Ali Sistani, alertou contra qualquer interferência estrangeira.

Em 3 de novembro, a greve geral paralisou escolas e prédios públicos da capital e do Sul.

À noite, quatro manifestantes foram mortos, quando tentavam atear fogo à representação diplomática do Irã em Kerbala.

No dia 4, houve confrontos em Bagdá entre a polícia e os manifestantes. As forças de segurança dispararam contra a multidão que avançava em direção à sede da TV pública.

No dia 9, após reuniões patrocinadas pelo poderoso general iraniano Qasem Soleimani, os partidos no poder concordaram em manter o governo de Abdel Mahdi e acabar com os protestos, mesmo se fosse necessário recorrer à força.

Em 17 de novembro, milhares de iraquianos saíram às ruas de todo o país, em uma greve geral. Em Bagdá, os manifestantes prorrogaram seu protesto sentados.

No dia 24, a desobediência civil se propagou pelo sul do país. Em Nasiriya, escolas e repartições públicas permaneceram fechadas, assim como em Hilla, Diwaniya, Najaf, Kut, Amara e Basra.

No dia 27, manifestantes atearam fogo ao consulado do Irã em Najaf. Centenas de jovens gritaram "Fora Irã!" e "Vitória do Iraque" no interior do recinto.

- 'Cenas de guerra' -

Em 28 de novembro, a repressão aos protestos no sul do país ganhou força, com o envio de comandos militares desde Bagdá: 46 manifestantes morreram e cerca de mil ficaram feridos.

Em Nasiriya, combatentes tribais saíram para proteger os manifestantes, e, em Najaf, homens abriram fogo contra a multidão.

"O banho de sangue tem que acabar", pediu a Anistia Internacional, que falou em "cenas de guerra" em Nasiriya.

- Renúncia do premier -

Em 29 de novembro, Ali Sistani convocou o Parlamento a retirar seu voto de confiança no governo, a fim de evitar o caos. Horas depois, Mahdi anunciou que apresentaria sua renúncia.

No dia seguinte, iraquianos continuaram se manifestando em Bagdá e no sul, afirmando que as mobilizações continuarão até que "todos os corruptos se vão".

Em 1º de dezembro, as manifestações se transformaram em procissões funerárias, em sinal de luto pelas vítimas. Houve mobilizações inclusive em Mossul, grande cidade sunita do norte.

No mesmo dia, o Parlamento aceitou a renúncia do governo de Mahdi, e o chefe da assembleia indicou que pedirá ao presidente iraquiano que designe o novo premier.


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