A performance intitulada “Un violador en tu camiño” (Um estuprador em seu caminho), idealizada por ativistas feministas chilenas, do grupo La Tesis, se espalhou por todo o mundo e tem sido replicada em diversas cidades em forma de manifestação. Em toda a América Latina e em vários países da Europa, o canto foi repercutido por milhares de mulheres.
"E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia", diz parte da música criada pelo coletivo feminista. A intenção é denunciar a violência contra a mulher e expor ideias feministas, chamando atenção para o movimento, que muitas vezes é descartado e colocado de lado.
A primeira performance aconteceu em 25 de novembro, na praça Aníbal Pinto, em Valparaíso, no Chile. No início pacíficas, as maniofestações tiveram desfecho violento com a repressão polícial. A data foi escolhida por ser Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Diversos outros grupos seguiram as chilenas. Em frente à Torre Eiffel, em Paris, centenas de mulheres se reuniram. O mesmo aconteceu em Porta do Sol, em Madri. A manifestação também já foi realizada nas ruas da Cidade do México, Nova York, Istambul, Berlim e Bogotá.
“O patriarcado é um juiz que nos castiga por nascer. E nosso castigo é a violência que você não vê”, diz outro trecho da música. As manifestantes usam vendas sobre os olhos numa forma de chamar a atenção para a cegueira da sociedade e da Justiça diante de casos de violência contra a mulher.
A música que acompanha a encenação artística se dirige à figura do um “juiz” que culpa mulheres vítimas de violência sexual pela roupa que usam ou pelo local que frequentam. Além de se referir ao patriarcado, ao capitalismo e criticar a figura do presidente da República. A intenção é sensibilizar e conscientizar as pessoas para questão de violência de gênero.
América Latina
Na América Latina, 12 mulheres são vítimas de feminicídio diariamente, segundo dados da ONU. Entre os 25 países com os mais altos índices de assassinatos de mulheres, 14 estão na região. Além disso, 90% dos homicídios não chegam à Justiça.
As taxas de feminicídios mais altas por 100.000 mulheres nos países da América Latina são: El Salvador (6,8), Honduras (5,1), Bolívia (2,3), Guatemala (2) e República Dominicana (1,9). No Caribe, Santa Lúcia teve uma taxa de 4,4 feminicídios por 100.000 mulheres em 2018.
Brasil
A Lei do Feminicídio representou um importante passo no reconhecimento das especificidades da violência contra a mulher. Ao introduzir o feminicídio como qualificadora do homicídio doloso, o Brasil reconheceu a violência doméstica e a discriminação à condição de mulher como elementos centrais e evitáveis da mortalidade de milhares de brasileiras todos os anos. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os feminicídios correspondem a 29,6% dos homicídios dolosos de mulheres em 2018.
Apesar disso, as taxas de feminicídio aumentaram 4% no Brasil. Foram 1.206 casos registrados em 2018, sendo que em 61% deles as vítimas eram mulheres negras e 88,8% dos autores foram companheiros ou ex-companheiros. Em Minas, foram 150 feminicídios em 2017 e 156 em 2018.
O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de 83 nações que mais matam mulheres no mundo.
Nessa quarta-feira, cerca de 80 mulheres se encontraram no largo da Batata em São Paulo, para ensaiar e filmar a performance. Na versão em português da letra do protesto a palavra “racista” foi colocam no lugar de “machista” no refrão. Outras manifestações já estão marcadas.
No próximo dia 10 será Goiânia. A data marca os 71 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O ato também será em homenagem à estudante de arquitetura Suzy Nogueira Cavalcante, de 21 anos, que faleceu devido à uma embolia pulmonar após ser estuprada em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Goiânia Leste.
Letra
O patriarcado é um juiz
que nós julga por nascer,
e nosso castigo
é a violência que você não vê
O patriarcado é um juiz
que nós julga por nascer,
e nosso castigo
é a violência que você já vê
É feminicídio.
Impunidade para meu assassino.
É o desaparecimento.
É o estupro.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia.
O estuprador era você. O estuprador é você.
São os policiais,
os juízes,
o estado,
o Presidente.
O Estado opressor é um macho estuprador.
O Estado opressor é um macho estuprador.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador era você. O estuprador é você.
Dorme tranquila, menina inocente,
sem preocupar-se com o bandido
que pelo teu sono doce e sorridente
cuida a tua querida polícia.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
O estuprador é você.
*Estagiária sob supervisão da editor-assistente Vera Schmitz
*Estagiária sob supervisão da editor-assistente Vera Schmitz