A Organização das Nações Unidas (ONU) realiza a cúpula do clima em Madri, a COP 25, que tem como principal desafio acelerar o combate às mudanças climáticas. Líderes mundiais enfrentam crescente pressão, especialmente de jovens em todo o mundo, para provar que podem evitar os impactos mais catastróficos do aquecimento global. Sob o lema "O mundo acordou para a emergência climática", a marcha de Madri começou na estação de Atocha, às 18h (14h de Brasília). Segundo os organizadores, havia meio milhão de pessoas no Centro da cidade, numa das maiores manifestações pelo clima que ocorreram no país. Em 27 de setembro, a maior até então, foram 20 mil manifestantes, que pediam por ações para reverter as mudanças climáticas.
À margem da cúpula, a manifestação em Madri é a principal, embora outra também está marcada para acontecer em Santiago do Chile. O presidente Sebastián Piñera desistiu de sediar a reunião das Nações Unidas, em razão da revolta social que abala o país. O evento ocorre desde o dia 2 e vai até o dia 13. Participam representantes de quase 200 países.
Símbolo da luta pelo meio ambiente desde que lançou, em agosto de 2018, sua "greve escolar", que impulsiona o movimento global "Sexta-feira pelo futuro", Greta Thunberg está presente. A jovem sueca, que chegou à cidade ontem, falou com a imprensa antes da marcha. "Nossas vozes são cada vez mais ouvidas, mas isso não se traduz em ação política”, disse.
Sem viajar de avião, devido a seu impacto ambiental, Greta foi de veleiro participar de uma cúpula da ONU sobre o clima em Nova York e depois para a COP 25 anunciada no Chile. Com a mudança de local, teve que pegar uma catamarã para fazer o caminho inverso e chegou à capital espanhola de trem.
Grupos indígenas também participavam do protesto. Juan Antonio Correa, do coletivo Minga Indígena, disse à AFP que eles são os primeiros afetados pelas mudanças climáticas. "As práticas tradicionais e históricas e o relacionamento que os povos indígenas têm com a Mãe Terra são uma alternativa e é a maneira pela qual toda a sociedade moderna pode lidar com essa crise climática", completou.
"É claro que não há vitória, porque a única coisa que queremos ver é ação real. Então já conquistamos muito, mas se você olhar para isso de um certo ponto de vista não conquistamos nada"
Greta Thunberg, ativista climática e símbolo de luta pelo meio ambiente
EM JOGO
A próxima década é um momento crítico para evitar a catástrofe global. No Acordo de Paris, o compromisso assumido foi de manter o aquecimento global a 1,5oC acima dos níveis da era pré-industrial até o fim do século – o mundo já está, em média, 1,1oC mais quente. Estudos recentes da ONU dizem que a meta precisa ser ainda mais rígida. A concentração dos principais gases do efeito estufa na atmosfera alcançou um recorde em 2018. A emissão de gases causadores do efeito estufa precisa cair em 7%, para evitar um aumento de temperatura de 3,2oC.
Os dois maiores emissores de gases, Estados Unidos e China, apresentam posicionamento dúbio. O presidente Donald Trump anunciou a saída do Acordo de Paris, adotado em 2015. A China vem assumindo discurso mais favorável ao combate ao aquecimento global, mas, na prática, constrói mais usinas de carvão.
Em Paris, 70 países se comprometerem a neutralizar emissões até 2050 – mas não os maiores emissores de gases. Isso significa que esses 70 países prometeram equilibrar as emissões de carbono com tecnologias de captura de gases ou plantando árvores, por exemplo, e atingir "emissões zero". A COP 25 é a última conferência do clima antes da década de 2020. Restam dúvidas sobre como realizar a transição para energias limpas e, mais do que isso, como financiar esse processo.
O ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que vai cobrar recursos de países ricos na COP 25 para preservação do meio ambiente no Brasil. No entanto, isso ocorre num momento em que a pauta ambiental do país vem sendo questionada: a Amazônia registra aumento no desmatamento e manchas de óleo atingem centenas de praias brasileiras, sem um culpado ou origem do óleo identificados.
“COMO OUSAM?”
Greta Thunberg disse que as vozes dos jovens fazendo greves pelo clima estão sendo ouvidas, mas que os políticos continuam sem agir. A garota, que desencadeou um movimento global de protesto liderado por jovens, depois de fazer greve diante do Parlamento sueco, no ano passado, disse que pedir que crianças faltem à escola para protestar contra a inação dos governos no combate à mudança climática "não é uma solução sustentável". "Não queremos continuar. Adoraríamos alguma ação das pessoas no poder", disse. "As pessoas estão sofrendo e morrendo por causa da emergência climática e ecológica hoje, e não podemos esperar mais tempo."
A ativista adolescente chegou de trem em Madri nesta sexta-feira para participar da conferência sobre o clima. Thunberg disse esperar que a rodada anual de negociações climáticas de duas semanas, leve a "ações concretas" e que os líderes mundiais entendam a urgência da crise climática. "É claro que não há vitória, porque a única coisa que queremos ver é ação real", disse ela. "Então, já conquistamos muito, mas se você olhar para isso de um certo ponto de vista não conquistamos nada."
Em setembro, Greta Thunberg disse a líderes de 60 nações que sua infância foi roubada por "palavras vazias". O discurso teve grande impacto. "Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias", disse Thunberg, que responsabilizou os adultos por não fazerem o bastante para proteger o meio ambiente. A garota alertou para ecossistemas que entram em colapso. "As pessoas estão sofrendo. As pessoas estão morrendo...” “Estamos no início de uma extinção em massa e tudo o que vocês falam gira em torno de dinheiro e um conto de fadas de crescimento econômico eterno. Como ousam?"