Abdelmadjid Tebboune, que era chefe de governo do ex-presidente Abdelaziz Buteflika, foi eleito presidente da Argélia no primeiro turno das eleições de quinta-feira, marcado pela abstenção e protestos em massa em favor de uma renovação política.
Tebboune, de 74 anos, obteve 58,15% dos votos, segundo o presidente da Autoridade Nacional de Eleições, Mohamed Charfi.
As eleições foram marcadas por abstenção recorde e por manifestações em massa, inéditas desde a independência da Argélia em 1962, exigindo a renovação total das estruturas políticas.
"Gostaria de parabenizar o candidato vencedor", disse Charfi. O Conselho Constitucional anunciará os resultados finais entre 16 e 25 de dezembro, após examinar possíveis apelações.
O islamita Abdelkader Bengrina, 57 anos, cujo partido apoiou a presidência de Buteflika, terminou em segundo (17,38%), disse Charfi.
Ali Benflis, primeiro ministro de Buteflika entre 2000 e 2003, tornando-se seu principal adversário eleitoral nas eleições de 2004 e 2014, obteve o terceiro lugar (10,55%).
O quarto lugar (7,26%) ficou para Azzedine Mihubi, líder da União Nacional Democrática (RND), principal aliada da Frente de Libertação Nacional (FLN) de Buteflika.
Em quinto lugar, terminou Abdelaziz Belaid (6,66%), ex-diretor da FLN e fundador de uma micropartidária para apoiar o ex-presidente. A vitória do ex-chefe de governo de Butefilka foi recebida com gritos "do povo e do exército, com Tebboune" na sede da campanha do político em Argel.
- '#Hirak continua' -
No entanto, após o anúncio dos resultados, os apoiadores do movimento de protestos "Hirak" tomaram as ruas de Argel após a oração de sexta-feira, pela 43ª vez desde o início dos protestos em 22 de fevereiro.
"A votação foi fraudulenta. Essas eleições não têm nada a ver conosco e o novo presidente não nos governará", afirmaram os manifestantes, considerando que as eleições presidenciais de quinta-feira são apenas uma extensão da era Buteflika.
Toda sexta-feira, os argelinos vão às ruas pedir uma renovação completa das estruturas políticas em um movimento chamado "Hirak", em árabe.
No Twitter, a hashtag do dia era "#Hirak continua", que serviu para lançar uma campanha sob o lema "Tebboune não é meu presidente".
A Autoridade Nacional Eleitoral indicou que a participação foi de 39,83%, a mais baixa da história, 10 pontos a menos do que as eleições de 2014, nas quais Buteflika conseguiu seu quarto mandato.
O dia de quinta-feira foi dominado pela baixa participação nas assembleias de voto e por uma impressionante demonstração de força do "Hirak", o que causou uma enorme mobilização policial.
Isso aconteceu sem grandes problemas, exceto na área de Cabilia (norte), uma região tradicionalmente conflituosa, onde vive a maioria da minoria berbere da Argélia, representando um quarto da população do país, ou seja, cerca de 10 milhões pessoas.
- "O povo não votou" -
Os manifestantes continuam a exigir o fim do sistema, em vigor desde a independência de 1962, e a saída de todos os partidários ou colaboradores de Buteflika durante seus 20 anos de mandato.
"O povo não votou. Sempre foi negligenciados. Sempre nos amordaçaram desde a independência. Nos despojaram da nossa independência. Ontem bateram em nós. Mulheres e idosos foram espancados. Vamos continuar até a saída do sistema", explica Djamila, uma manifestante sexagenária.
Após uma primeira tentativa de eleições abortada em julho, a cúpula das Forças Armadas, pilar do regime e comandada desde a saída de Butefklika, sabia que tinha que organizar essas eleições para superar a crise político-institucional do país que tem agravado a situação econômica.