Jornal Estado de Minas

Procuradoria boliviana ordena prisão do ex-presidente Evo Morales

A Procuradoria boliviana ordenou nesta quarta-feira (18) a apreensão do ex-presidente Evo Morales, que se encontra na Argentina, por uma denúncia apresentada pelo atual governo interino do país pelos supostos crimes de sedição e de terrorismo - informa um documento oficial.



A determinação assinada pelos procuradores de La Paz Jhimmy Almanza e Richard Villaca ordena a procuradores, policiais e/ou funcionários públicos que "apreendam e conduzam o senhor Juan Evo Morales Ayma, aos escritórios da Procuradoria".

"Não me assusta", reagiu Evo Morales.

"Há 14 anos da nossa revolução, o 'melhor presente' que recebo do governo de facto é uma ordem de apreensão, injusta, ilegal e inconstitucional. Não me assusta. Enquanto tiver vida, seguirei com mais força na luta política e ideológica por uma #Bolívia livre e soberana", tuitou.

O ministro de Governo (Interior), Arturo Murillo, difundiu em sua conta do Twitter uma fotografia do documento da Procuradoria. Foi essa autoridade que apresentou a denúncia ao Ministério Público em 22 de novembro passado, pelos crimes de "sedição e terrorismo".



O processo aberto contra o ex-presidente, que renunciou em 10 de novembro, é baseado em um áudio revelado por Murillo, no qual a voz de Morales é ouvida supostamente dando instruções a um de seus apoiadores, o plantador de coca Faustino Yucra, para bloquear estradas e interromper o fornecimento de alimentos para algumas cidades.

Após a renúncia de Morales, que esteve no poder por quase 14 anos, várias cidades do país, principalmente as de La Paz e sua vizinha El Alto, sofreram escassez de alimentos e combustível, o que forçou o governo interino a habilitar pontes aéreas.

"Que a comida não entre nas cidades, vamos bloquear, cerco de verdade", ouve-se a voz que, segundo Murillo, pertence a Morales, no diálogo telefônico com Yucra.

Na época - de acordo com a denúncia -, o ex-chefe de Estado estava asilado no México, antes de ir para a Argentina, onde pediu refúgio.

O coronel Fernando Guarachi, chefe de uma unidade policial da Força Especial de Combate ao Crime (FELCC), disse ao canal de televisão privado ATB que todas as medidas relevantes serão tomadas para apreensão, uma vez que Morales está em solo argentino desde quinta-feira passada.



"Serão feitos todos os atos de investigação necessários para poder coordenar. No entanto, é responsabilidade do Ministério Público também poder coordenar com seus colegas de outros países" para cumprir a detenção, disse.

Morales descreveu o áudio acima mencionado várias vezes como uma montagem.

O ex-presidente afirma que a justiça comum não tem competência para julgá-lo, o que é uma prerrogativa do Congresso.

"Eu sou um ex-presidente. Não posso ser processado" na justiça comum. "É preciso haver um julgamento" no Congresso.

O procurador-geral da Bolívia, Juan Lanchipa, respondeu que Morales não goza de qualquer privilégio no caso porque os crimes foram cometidos após sua renúncia.

"O julgamento" no Congresso "é um privilégio para ações realizadas pelo presidente e o vice-presidente no exercício de suas funções. As ações em questão são posteriores a 10 de novembro, quando já havia deixado a função presidencial".