Mais de 235.000 pessoas fugiram da região de Idlib, noroeste da Síria, nas últimas duas semanas, devido à intensificação dos bombardeios do regime e de sua aliada Rússia contra o último reduto rebelde, informou a ONU nesta sexta-feira (27).
Vários veículos transferiram novamente civis para fora de suas cidades na província de Idlib nesta sexta. Eles se dirigem a regiões do norte consideradas mais seguras.
Esses deslocamentos em massa acontecem em um momento em que a região sofre com inundações, que atingem os campos de refugiados.
"Não podemos viver nos campos", lamenta Oum Abdu, mãe de cinco filhos que chegou recentemente a um campo perto da cidade de Dana, ao norte de Idlib.
"Há fortes chuvas e precisamos de calefação (...) roupa, e comida", acrescenta.
A Oficina de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla em inglês) lembra que os deslocamentos "no inverno aumentam a vulnerabilidade de alguns grupos, especialmente as mulheres, as crianças e os idosos". A organização lamenta também a suspensão da ajuda de algumas ONGs por causa dos combates.
Desde meados de dezembro, as forças do regime sírio, apoiadas pela aviação russa, intensificaram seu ataque aos jihadistas e rebeldes e os combates por terra na região de Idlib, apesar do cessar-fogo anunciado em agosto.
- Uma cidade "quase vazia" -
Os deslocamentos forçados, registrados entre 12 e 25 de dezembro, deixaram praticamente vazia a cidade de Maaret al Numan, cenário de violentos combates, afirma a ONU em um comunicado.
A maioria desses deslocados fugiram para o norte, para as cidades de Ariha, Saraqeb e Idlib, ou campos de deslocados já superlotados ao longo da fronteira com a Turquia, e alguns estão se dirigindo para áreas controladas por rebeldes pró-Ancara, ao norte de Alepo, precisou a ONU.
Algumas pessoas que já haviam deixado Maaret al Numan para Saraqeb "estão fugindo novamente para o norte, antecipando uma intensificação dos combates" nesta área, segundo a mesma fonte.
Um porta-voz da OCHA, David Swanson, afirmou nesta sexta-feira que mais de 80% daqueles que escaparam do sul da província de Idlib em dezembro eram mulheres e crianças.
Quase três milhões de pessoas vivem na região de Idlib, composta por uma grande parte da província de mesmo nome e segmentos das províncias vizinhas de Alepo e Latakia. Ela é controlada por jihadistas do grupo Hayat Tahrir al-Cham (HTS).
O regime, que controla agora mais de 70% do território sírio, demonstrou reiteradamente sua intenção de reconquistar Idlib.
Damasco e Moscou realizaram uma grande ofensiva no local entre abril e agosto, resultando na morte de mil civis, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), causando a fuga de 400.000 pessoas de acordo com ONU.
Na terça-feira, a Turquia pediu um novo cessar-fogo e uma desescalada. Na quinta-feira, foi a vez do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedir aos governos de Rússia, Síria e Irã que detenham a violência contra civis em Idlib.
"Rússia, Síria e Irã estão matando, ou a um passo de matar, milhares de civis inocentes", tuitou Trump.
O conflito na Síria, desencadeado em 2011 pela repressão do regime a protestos pró-democracia, deixou mais de 370.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados.