Jornal Estado de Minas

Confronto no Oriente Médio

Iraque revida e Trump ameaça com 52 alvos para atacar no Irã

Na frente da Casa Branca e em vários locais nos EUA, opositores do presidente pediram a saída das tropas do Oriente Médio (foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP)
 
Em resposta ao contra-ataque do Iraque e ao aumento dos apelos por “vingança” contra os Estados Unidos (EUA), o presidente norte-americano, Donald Trump, advertiu, na noite de ontem, que tem 52 alvos no Irã e que irá atacá-los “muito rapidamente e de forma muito dura” se Teerã investir contra pessoas ou propriedades americanas. Ele usou um tuíte para defender o ataque com drone por meio do qual autorizou o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani  no Iraque.



Trump disse que 52 corresponde ao número de reféns que permaneceram na embaixada americana em Teerã por mais de um ano desde o fim de 1979. Ele destacou que os alvos no Irã são “de muito alto nível e importantes para o Irã e a cultura iraniana. Os Estados Unidos não querem mais ameaças!”

O presidente dos EUA também recorreu ao Twitter depois que facções pró-Irã aumentaram a pressão sobre as instalações americanas no Iraque com o lançamento de projéteis, parte da escalada da tensão provocada pelo assassinato pelos Estados Unidos de Soleimani, conhecido como segundo homem mais poderoso do Irã.

Dois ataques, ontem, visaram quase simultaneamente a chamada Zona Verde de Bagdá, onde está localizada a Embaixada dos EUA, e uma base aérea do Iraque que abriga soldados americanos ao Norte da capital, informaram autoridades dos serviços de segurança do país. Ao mesmo tempo, manifestantes condenaram em dezenas de cidades americanas o ataque autorizado pelo presidente Donald Trump, que resultou na morte do general iraniano e do seu braço-direito Abu Mehdi Al Mouhandis no aeroporto de Bagdá.

No Iraque, dois morteiros caíram na Zona Verde de Bagdá, onde, na terça-feira, milhares de combatentes e partidários pró-Irã invadiram o edifício que abriga a representação de Washington. No mesmo momento, menos de 100 quilômetros ao Norte da cidade, dois foguetes Katyusha caíram na base aérea de Balad, que abriga soldados e aviões americanos.



De acordo com o comando militar iraquiano, os ataques não fizeram vítimas. Logo após os disparos, drones americanos sobrevoaram a base para missões de reconhecimento, acrescentaram as fontes. Os EUA enviaram outras tropas, esta semana, para proteger seus diplomatas e soldados no Iraque, onde o sentimento antiamericano, alimentado pelos pró-iranianos, explodiu com o assassinato na sexta-feira em Bagdá do poderoso general iraniano Qasem Soleimani.

Os apelos por “vingança” se ampliaram em Bagdá e em Teerã, enquanto os americanos já consideram, há vários meses, as facções armadas pró-Irã no Iraque uma ameaça mais perigosa do que os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI). Desde o fim de outubro, 13 ataques com foguetes atingiram os interesses americanos no Iraque, matando um americano terceirizado em 27 de outubro em numa base no centro do país.

Nenhum ataque foi reivindicado, mas Washington acusa as facções pró-Irã da Hachd al-Shaabi – uma coalizão paramilitar integrada ao Estado iraquiano – de serem responsáveis. Milhares de iraquianos, incluindo autoridades, participaram ontem em Bagdá do funeral de Qasem Soleimani.



“Morte à América”, gritou a multidão em Bagdá e nas cidades sagradas xiitas de Kerbala e Najaf durante a passagem do cortejo fúnebre do general iraniano e de Abu Mehdi Al Muhandis, seu braço direito. 

INCONSCIENTE Manifestantes se reuniram ontem em Washington, Nova York e outras dezenas de cidades americanas, aos gritos de “Não à guerra com o Irã!”, após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani por ordem do presidente Donald Trump. Cerca de 200 pessoas se concentraram em frente à Casa Branca, depois que organizações de esquerda convocaram protestos em cerca de 70 cidades, sob os lemas “Retirada americana do Iraque agora!” e “Não à guerra e às sanções contra o Irã!”.

Na Times Square, em Nova York, manifestantes marcharam levando cartazes pedindo a retirada das tropas americanas do Iraque e que se evite “uma guerra com o Irã”. Também houve protestos em frente à Trump Tower de Chicago, de propriedade do presidente, e em Los Angeles. (Com informações de agências)


Prejuízo para o comércio do Brasil


Rosana Hessel

Brasília – As exportações brasileiras para o Irã poderão ser prejudicadas pelo nova crise no Oriente Médio, pois muito do que o país exporta para aquele destino segue por meio de outras nações do Golfo Pérsico ou da Ásia. A avaliação foi feita pelo especialista em relações internacionais Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil entre 2007 e 2011 e sócio da BMJ Consultores Associados.“O Irã chegou a ser o maior importador de carne bovina do Brasil, mas, por conta das sanções dos Estados Unidos, os produtos brasileiros não seguem diretamente para lá e acabam indo via algum país que não obedece às sanções norte-americanas”, destacou.


 
Havendo um endurecimento dos EUA em relação ao Irã, e uma vez ampliadas as sanções, o Brasil pode ser afetado, mas é difícil quantificar o impacto, de acordo com Barral. “Estamos falando de um mercado importante, de quase 80 milhões de pessoas que consomem produtos halal”, explicou.

Barral lembrou que o Brasil é o maior exportador global de carnes halal, que têm técnica de abate específica, monitorada, para ser consumida por muçulmanos. Contudo, os dados oficiais não mostram o verdadeiro volume comprado pelos iranianos. De acordo com dados do Ministério da Economia, o Irã é o 23º destino das exportações brasileiras, comprando pequena parcela dos US$ 224 bilhões comercializados pelo Brasil com o resto do mundo em 2019.
 
A balança comercial entre Brasil e Irã é favorável ao lado brasileiro, com saldo de US$ 2,2 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado. Os embarques para o país persa registraram queda de 11,7%, para US$ US$ 2,25 bilhões no acumulado de 2019. Entre os principais produtos, estão milho e soja, que responderam por 44% e 26% do valor comercializado, respectivamente. As importações brasileiras do Irã somaram apenas US$ 39,9 milhões, predominantemente, de ureia, matéria-prima de fertilizantes.




Otan cautelosa

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar dos EUA e países da Europa, suspendeu ontem as operações de treinamento das forças de segurança no Iraque após a morte do general iraniano Qassim Suleimani em ação dos EUA no país. A informação foi confirmada para a emissora catariana Al Jazeera. “A missão da Otan no país continua, mas as atividades de treino estão suspensas”, disse o porta-voz Dylan White em comunicado obtido pela emissora. Ele informou que o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenber, conversou por telefone com o secretário de Defesa norte-americano, Mark Esper, após a morte de Suleimani.