A renúncia do príncipe Harry, neto da rainha Elizabeth II, e da sua esposa Meghan de suas funções reais deixou a realeza britânica desorientada. A monarquia, que vem recebendo duras críticas, mais do que nunca tem buscado formas de se reinventar.
O anúncio também aumentou a pressão sobre o irmão mais velho de Harry, o príncipe William, que, junto a esposa Kate, devem um dia ocupar o trono e agora terão que carregar sozinhos o dever de representar a instituição perante as gerações mais jovens.
A rainha Elizabeth II e o príncipe Philip tem respectivamente 93 e 98 anos. Atualmente, o casal já não viaja e nos últimos anos são representados em compromissos internacionais pelo filho e herdeiro Charles, e os dois netos e suas esposas.
Da sua parte, recentemente o príncipe Charles anunciou sua intenção de restringir a casa real, uma vez coroado, ao núcleo formado por ele, seus filhos e netos, dispensando tios, primos e outros.
Assim, apesar de ser o sexto na linha sucessória ao trono, Harry e Meghan ocupariam um lugar cada vez mais importante na monarquia nos próximos anos.
No entanto, a decisão repentina do príncipe, de 35 anos, comunicada sem o consenso do restante da família, mudou as regras do jogo e deixou a realeza desnorteada.
"Não há dúvidas de que qualquer ruptura, inimizade ou desarmonia entre os membros da família real tenha um enorme impacto na forma em que a realeza é vista publicamente", explicou Victoria Murphy, especialista em realeza britânica, à AFP.
"Um dos seus pontos fortes é quando estão juntos. Quando reúnem os súditos ou visitantes para vê-los, existe a sensação de que eles devem estar unidos", acrescenta a especialista.
- A sobrevivência da realeza -
Harry fez valer sua reputação de impulsivo ao decidir mudar a forma de se relacionar com a mídia e viver entre o Reino Unido e os Estados Unidos sem consultar a rainha ou seu pai, Charles.
"A única maneira sensata de proceder em relação a isso era ter discutido o assunto com outros membros da família real previamente", considera Richard Fitzwilliams, especialista em realeza britânica.
Em prol da sobrevivência da instituição, a monarquia britânica tem sido historicamente impiedosa com os membros que quebraram as regras.
Em 1936, quando o rei Edward VIII, tio da rainha Elizabeth, abdicou do trono para casar-se com Wallis Simpson, uma americana divorciada. O casal passou o restante da vida na França.
Do mesmo modo, a princesa Diana, mãe de Harry, perdeu o título de "alteza real" em 1996, quando se separou de Charles. Assim como aconteceu com Sarah, quando terminou o casamento com o príncipe Andrew, terceiro filho da rainha Elizabeth II.
O príncipe Andrew, por sua vez, recentemente se retirou da vida pública após ser associado ao escândalo envolvendo o americano Jeffrey Epstein.
- Prisão de luxo -
Ex-atriz e afrodescendente, Meghan foi à princípio considerada como alguém que traria um sopro de ar fresco à realeza, uma instituição querida pelos britânicos, ainda que arcaica diante do Reino Unido multicultural do século XXI.
Diferentemente da princesa Diana, que tinha apenas 19 anos ao se casar com Charles, Meghan parecia suficientemente madura para saber o que lhe aguardava ao entrar para a família real em 2018.
No entanto, a duquesa de Sussex não se adaptou à jaula de ouro da realeza, que tem séculos de tradição.
Ainda não se sabe se a nova forma de viver do casal, com um pé na família real e outro fora, de fato durará. No momento, a rainha Elizabeth II solicitou a ajuda de funcionários reais para compreender burocraticamente a situação.