Jornal Estado de Minas

Secretário de cultura de Bolsonaro cita Goebbels e causa indignação

O secretário de Cultura do governo de Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, parafraseou o ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels ao anunciar o renascimento da arte no país, causando indignação generalizada.

"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", afirmou Alvim ao lançar um prêmio nacional de artes na quinta-feira à noite.



A frase é muito parecida com a de Goebbels - na qual o líder nazista falou de arte "heroica", "nacional" e "imperativa" -, citada no livro "Goebbels: a Biography" (2015), de Peter Longerich.

Essas palavras geraram rápida indignação no país.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, aliado do governo, pediu que Alvim fosse destituído do cargo.

"O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", tuitou Maia.

A Confederação Israelense do Brasil, que representa a comunidade judaica no Brasil, também considerou o discurso do secretário "inaceitável" e solicitou sua saída.

Alvim se defendeu nesta sexta-feira dizendo que a semelhança com a frase de Goebbels é uma "falácia de associação remota" feita pela "esquerda".



"É típico dessa corja . Repito: foi apenas uma frase do meu discurso na qual havia uma coincidência retórica (...) Houve uma coincidência com UMA frase de um discurso de Goebbles... não o citei e JAMAIS o faria".

A Presidência brasileira não respondeu por ora aos pedidos de explicação enviados pela AFP.

No vídeo, de cerca de seis minutos, Alvim anuncia solenemente a criação de um prêmio que destinará 20 milhões de reais para financiar projetos de ópera, teatro, pintura, escultura, literatura, música e quadrinhos.

A iniciativa busca promover o "renascimento da arte e da cultura no Brasil", diz o secretário, que usa como som de fundo a ópera Lohengrin de Richard Wagner (1813-1883), compositor antissemita admirado por Adolf Hitler.

"A pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus amparam nossas ações na criação de políticas públicas. As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrificio e da luta contra o mal serão alçadas ao território sagrado das obras de Arte", declara Alim.

Ao assumir o cargo em novembro passado, Alvim prometeu iniciar uma "guerra cultural" contra o progressismo e alinhar as políticas públicas aos valores conservadores do governo de Bolsonaro.