Após anos de negociações com obstáculos e dramas protagonizados por diversas personalidades políticas, o Reino Unido deixou de integrar a União Europeia nesta sexta-feira (31).
Aqui estão alguns dos principais personagens dessa tragicomédia:
- Cameron versus conservadores eurocéticos -
Em 2015, o então primeiro-ministro David Cameron, defensor da continuação do Reino Unido na UE, propôs a convocação de um referendo sobre o Brexit para acalmar os ânimos sobre as diferentes opiniões que há anos dividiam o seu partido conservador.
Cameron governava em coalizão com os liberal-democratas e estava convencido de que eles o impediriam.
Porém, nas eleições seguintes os membros liberal-democratas desapareceram do mapa e o primeiro-ministro teve que cumprir a sua promessa.
A votação foi agendada para 23 de junho de 2016. Cameron fez campanha contra o Brexit e, após resultado favorável à saída do Reino Unido da UE no referendo, renunciou ao cargo.
- May encurralada por Miller e Bercow -
A ministra do Interior de Cameron, Theresa May, que apesar de ser eurocética também fez campanha contra o Brexit, foi designada a substituí-lo no cargo.
Convencida de que sua missão era cumprir com o desejo dos 52% dos britânicos que foram favoráveis ao Brexit, e temendo os 48% que votaram contra, entrou em negociação com Bruxelas que não agradou a nenhum dos dois lados.
Na tentativa de reforçar a sua imagem, antecipou as eleições legislativas para junho de 2017, após ser convencida por pesquisas que apontavam resultados positivos.
No entanto, May perdeu na maioria absoluta e ficou diante de um Parlamento fragmentado.
A ativista pró-europeia Gina Miller, diretora de um fundo de investimentos, conseguiu, após forte batalha legal, que o Supremo Tribunal Britânico avançasse com o julgamento do Brexit no Parlamento.
A sessão, liderada pelo presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, que foi acusado de favorecer os pró-europeus, recusou o acordo proposto por May, que acabou renunciando ao cargo em julho de 2019.
- Johnson, Farage e Cummings -
Boris Johnson, ex-ministro das Relações Exteriores de May, que deixou o seu governo por não concordar com a estratégia da então primeira-ministra diante da UE, assumiu o cargo.
Junto ao populista Nigel Farage, do qual tentou manter-se distante, Johnson foi uma das principais personalidades da campanha favorável ao Brexit.
Em seus primeiros meses no poder, sofreu inúmeros contratempos legais e parlamentares.
Porém, com a promessa de um Brexit "a qualquer custo", conseguiu renegociar com Bruxelas o acordo que parecia estagnado. Quando não conseguiu aprová-lo a tempo da votação no Parlamento, Johnson convocou legislativas nas quais obteve a maioria absoluta.
O Brexit é a sua grande vitória pessoal e o legitima a nível nacional e internacional, apesar da sua reputação de nem sempre se comprometer com a verdade quando se beneficia disso.
- Barnier, Juncker e Tusk -
O ex-ministro francês de Relações Exteriores e ex-comissário europeu, Michel Barnier, ressurgiu em 2016 para liderar a equipe de negociações para administrar o acordo do Brexit em Londres.
Ele estabeleceu que todos os encontros ocorressem em Bruxelas e que a futura relação com a UE apenas fosse negociada após as condições para o "divórcio" estivessem resolvidas.
Barnier se tornou um negociador implacável e pretende continuar sendo durante a próxima fase, que trata-se da discussão do acordo comercial.
Como presidente da Comissão Europeia, o ex-primeiro ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker acompanhou o Brexit desde o início, até deixar o cargo em dezembro.
Também acompanhou o processo o colega Donald Tusk, ex-primeiro-ministro polaco que presidiu o Conselho Europeu de 2014 a 2019.
Ambos contribuíram com palavras impactantes e por vezes polêmicas durante o processo.
"Me pergunto como é o lugar especial no inferno para aqueles que defenderam o Brexit sem nem ao menos pensar em um plano sobre como efetivamente fazê-lo funcionar", declarou Tusk.
- Donald Trump e sua opinião -
Desde que assumiu o poder, o presidente americano Donald Trump tentou opinar no processo durante vários momentos ao longo desses anos.
Criticou a estratégia negociadora de May, aconselhando-a a optar por um Brexit simples e sem acordo, e para valorizar o seu amigo Boris Johnson, a quem considerava o homem certo para essa missão.
Após o Brexit, Trump aponta como prioridade absoluta a negociação de um acordo de Livre Comércio dos EUA com Londres.