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Estado de Minas

Nem rum Havana Club escapa do arrocho que Estados Unidos impõem a Cuba


postado em 05/02/2020 18:19

Tiveram que apertar os cintos, mas conseguiram. Os fabricantes do rum Havana Club precisaram superar muitos obstáculos que o presidente Donald Trump impôs a eles desde 2019 e que afetam a economia e a vida cotidiana em Cuba.

Na moderna destilaria e envasadora San José, 32 km a sudeste de Havana, o diretor de Desenvolvimento de Mercados da empresa cubano-francesa Havana Club International, Sergio Valdés, destaca com satisfação que apesar disso, alcançaram a produzir as 4,7 milhões de caixas (de nove litros) previstas.

"O líquido Havana Club é 100% cubano, tudo com origem em Cuba", mas para "as caixas, as garrafas, os rótulos, as tampas, nós temos, sim, necessidade de importação e estas importações são das coisas que podem ser complicadas em um momento determinado", explica Valdés.

Como? "Um fornecedor histórico nos diz que não pode continuar vendendo para nós, um fornecedor em algum lugar nos diz que tem dificuldades com seu banco para poder nos pagar", acrescenta.

Trump acusa Cuba de sustentar militarmente a Venezuela de Nicolás Maduro, seu aliado político e econômico, na mira de Washington.

O governo de Miguel Díaz-Canel nega esta acusação e não abandona seu aliado, resistindo ao inédito arrocho no embargo que os Estados Unidos impõem à ilha desde 1962, com novas restrições quase em ritmo semanal.

Este bloqueio impede que o rum cubano chegue ao mercado americano. "Estar fora de 40% do mercado mundial (Estados Unidos) já tem um impacto na marca, isso é indiscutível", disse Valdés.

"Atiraram em nós para matar, mas aqui estamos", disse em dezembro Díaz-Canel, cujo governo enfrenta tentativas de cortar os fornecimentos de petróleo, perseguição financeira internacional, suspensão de viagens de cruzeiro e limitação de voos comerciais, entre outras medidas.

O terminal de cruzeiros de Havana fica a 150 metros do Museu do Rum, onde os passageiros dos navios se abasteciam. A suspensão das viagens deixou a loja quase deserta, constatou a AFP.

Trump também ativou o artigo III da Lei Helms-Burton, que permite reclamações em tribunais das empresas nacionalizadas em Cuba depois de 1959 e afugenta possíveis investidores.

Isso reacende um pleito judicial de mais de duas décadas pela propriedade da marca entre Cuba e a gigante Bacardi, sua proprietária nos Estados Unidos, onde comercializa um rum fabricado em Porto Rico.

O rum é um importante produto de exportação para Cuba. Em 2018 foram exportados 397.642 hectolitros no valor de 136 milhões de dólares, o que representou 40% menos em volume do que em 2017, mas apenas 9% menos em valor, o que significa produtos mais elaborados e menos cotados.

"Os efeitos (das restrições) são múltiplos, mas múltiplos, mas o importante é que o Havana Club até agora teve a sabedoria (...) de compensar os possíveis impactos negativos destas medidas", disse Valdés.

Como uma estrategista em uma guerra comercial, revela apenas: "talvez pagando um pouquinho mais, talvez demorando um pouquinho mais, exigindo um planejamento ainda mais preciso, mais profundo".

- Tecnologia e tradição -

Inaugurada em 2007 a um custo de 66 milhões de dólares, a fábrica de San José é uma empresa mista da estatal Cuba Ron com a francesa Pernod Ricard e está destinada à produção de envelhecidos escuros.

A antiga fábrica de Santa Cruz, 47 km ao leste de Havana, ficou para os runs brancos.

De vários engenhos chega a San José o melaço - resíduo de cristalização do açúcar - que é destilado com uma moderníssima tecnologia para obter aguardentes aromáticos com mais de 70% de álcool, "a alma, o coração do rum", segundo o especialista em rum, chamado de mestre 'ronero', Asbel Morales.

Quando estão prontos? "Temos os equipamentos mais modernos que existem, mas nenhum vai te dizer (que) este é o aguardente do rum Havana Club porque é (um processo) claramente sensorial", explica Morales.

O mestre pega uma amostra do aguardente, a coloca em suas mãos e esfrega uma na outra. Se o líquido pega uma textura oleosa, está pronto. Depois de evaporado, ele cheira as mãos e comprova o aroma.

"É uma técnica muito tradicional, muito simples e reveladora da verdade, da qualidade do aguardente", acrescenta.

Uma vez aprovado, o aguardente irá repousar por anos em barris de carvalho branco americano, previamente utilizados na fabricação do whisky, onde vão ganhar a cor escura, os aromas frutados, um processo totalmente natural favorecido pelas altas temperaturas e a umidade de Cuba.

Estes runs são consumidos em Cuba e em outros 125 países, sobretudo na Europa.

Mas os cubanos o preferem puro ou com gelo. Solene, o mestre Morales cumpre o "ritual cubano": abre a garrafa e joga no chão um pequeno jato dedicado aos "santos" do culto iorubá, uma tradição seguida inclusive por cristãos e ateus.


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