O Uruguai encerrou, neste domingo (1), 15 anos de governos de esquerda com a posse do liberal Luis Lacalle Pou, que em seu discurso de posse pediu um Mercosul sem ideologias e anunciou medidas imediatas em segurança, economia e meio ambiente.
"A orientação política de cada um dos membros do Mercosul não deve importar", disse Lacalle Pou, minutos depois de assumir um compromisso de honra constitucional perante a Assembleia Geral (Parlamento) para tomar posse no cargo.
O líder de centro-direita do Partido Nacional (PN), que conseguiu derrotar a Frente Ampla (FA, esquerda) com uma coalizão de cinco forças políticas que vão do centro até uma direita mais radical, fez um discurso de aproximadamenrte 30 aos legisladores, antes de se encaminhar para o Plaza Independencia, onde tomou posse oficialmente após recer a faixa presidencial de Tabaré Vázquez.
Lacalle Pou insistiu em sua promessa de campanha de cortar gastos públicos para reduzir o déficit fiscal (4,6%), o maior dos últimos 30 anos. "Este governo tem o compromisso de se controlar de maneira austera; cuidaremos de cada peso (moeda uruguaia) dos contribuintes", afirmou ele, garantindo que promoverá "uma verdadeira regra fiscal".
Ele não deixou de fora a insegurança, uma das questões que levou à derrota da FA, afirmando que "estamos diante de uma emergência". Como anunciado, nesta segunda-feira reunirá "todas as hierarquias policiais do país para dar instruções claras sobre a estratégia" a ser seguida, considerando que "a grande maioria dos uruguaios que se sente desprotegida".
Lacalle também incluiu em seu discurso o meio ambiente, garantindo que criará um ministério específico para o tema.
Após seu discurso aos parlamentares, o advogado de 46 anos que foi legislador por duas décadas se dirigiu à Plaza Independencia com sua vice-presidente Beatriz Argimón em um Ford V8 de 1937, que pertencia ao seu bisavô Luis Alberto de Herrera, um líder histórico do PN. O veículo também foi usado por seu pai, ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), no dia em que assumiu.
Lacalle Pou, chega à presidência em sua segunda tentativa depois de derrotar o candidato oficialista Daniel Martínez em novembro, por uma diferença de 1,5% dos votos.
Centenas de partidários do PN vieram de diferentes partes do país para acompanhar a cerimônia.
- Desafios -
Lacalle Pou, que assume a presidência em um país com uma economia estagnada, um déficit fiscal de 4,6% e um aumento no desemprego, anunciou que tomará medidas imediatas em várias frentes, desde a redução dos gastos públicos à facilitação da imigração ou combate à insegurança.
Um de seus primeiros desafios será a aprovação da Lei de Urgente Consideração (LUC), com 457 artigos que tratam de questões como segurança, economia e educação. Este projeto, que o Parlamento deve aprovar em no máximo 90 dias, já gerou protestos de vários setores e levou o sindicato dos professores a convocar uma greve para 12 de março.
Até integrantes da coalizão governista formada pelo PN, o Partido Colorado (PC, liberal), Cabildo Abierto (CA, direita radical), o Partido da Gente (PG, direita) e o Partido Independente (PI, social-democrata) apresentaram modificações ao rascunho.
O novo presidente também anunciou sua intenção de implementar mudanças radicais na política externa. Para sua posse não convidou os presidentes de esquerda de Cuba, Nicarágua e Venezuela, cujo presidente Nicolás Maduro descreveu como "ditador".
Em contrapartida, contou com a presença dos presidentes direitistas do Brasil, Colômbia, Paraguai e Chile. Também o rei Felipe VI da Espanha, que Lacalle Pou recebeu no sábado com um churrasco em casa.
O presidente argentino, Alberto Fernández, declinou do convite, alegando que, no mesmo dia, abrirá as sessões ordinárias do Congresso.
A saída de Vázquez, que termina seu segundo mandato (2015-2020), encerrou três governos consecutivos da FA.
O ciclo progressista culmina marcado pela aprovação de leis sociais - como a regulamentação do uso de maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo - mas também pelo aumento dos salários e aposentadorias, pela expansão do acesso a saúde, declínio acentuado da pobreza e períodos de crescimento recorde do PIB.
No entanto, os últimos cinco anos registraram estagnação econômica, aumento do desemprego e aumento da insegurança. O que ajuda a explicar sua derrota nas últimas eleições.
"O Uruguai nunca entrou em recessão e teve 16 anos de crescimento ininterrupto com a melhor distribuição de riqueza" da América Latina, disse Vázquez na sexta-feira à noite em uma cerimônia de despedida.
"O crescimento econômico com justiça social é o legado político dos três governos da FA", disse o presidente, antes de destacar a "paz social" do país em uma região convulsionada.