A Itália decidiu pôr em quarentena, neste domingo (8), mais de 15 milhões de pessoas no norte do país, cerca de 25% da população total, em uma medida sem precedentes para tentar conter o avanço do novo coronavírus no território.
Em decreto sancionado hoje pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, o governo também determinou o fechamento de museus, teatros, cinemas, salas de concertos, pubs, salões de jogos e outros estabelecimentos similares em todo país até 3 de abril.
As competições esportivas ficam suspensas, embora alguns eventos possam ser realizados a portas fechadas, ou seja, sem público.
Também neste domingo o ministro dos Esportes, Vincenzo Spadafora, pediu a suspensão imediata da Série A de futebol, também no contexto de rápida propagação do novo coronavírus. Já são 233 mortos no país.
"Não tem sentido agora, quando estamos pedindo aos cidadãos enormes sacrifícios para prevenir a propagação da epidemia, pôr em risco a vida de jogadores, árbitros, torcedores que, certamente, vão-se reunir para ver as partidas, não suspender o futebol temporariamente", declarou Spadafora em mensagem publicada no Facebook.
A 26ª rodada da Série A ainda não foi suspensa, embora, em caso de disputa de jogos, a determinação seja para eventos fechados ao público. Hoje, a principal partida acontece entre a Juventus e o Inter, segundo e terceiro na tabela.
Escolas e universidades já haviam recebido ordem para cancelarem as aulas até meados de março.
Por força do decreto, as viagens para entrar e sair de uma grande área no norte da Itália - de Milão, capital econômica do país, a Veneza, meca do turismo mundial - passaram a ser severamente limitadas.
Serão possíveis apenas os deslocamentos que obedeçam a "imperativos profissionais verificáveis e a situações de urgência por razões de saúde". Na prática, isso significa deixar em quarentena quase 15 milhões de pessoas, ou cerca de 25% da população.
O decreto do governo determina que, na região da Lombardia e em outras 14 províncias, ficam proibidos todos os eventos culturais, esportivos e religiosos, assim como estipula o fechamento de discotecas, pubs, escolas de dança e lugares similares até 3 de abril.
O temor de uma propagação da doença que poria em xeque todo sistema de saúde italiano é tamanho que museus, teatros, cinemas e outras casas de shows também fecharam as portas em todo país.
- Elogio da OMS
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, elogiou neste domingo as medidas "corajosas" tomadas pela Itália para conter a propagação do novo coronavírus, classificando-as de "verdadeiros sacrifícios".
"O governo e a população da Itália estão tomando medidas audaciosas e corajosas para conter a propagação do coronavírus e proteger seu país e o mundo. Fazem verdadeiros sacrifícios", tuitou Ghebreyesus.
"A OMS é solidária com a Itália e está aqui para continuar lhes dando apoio", acrescentou.
Em sua primeira oração de Ângelus feita por "streaming", neste domingo, o papa Francisco manifestou "sua proximidade" para com os doente pelo coronavírus.
Desde a aparição do novo coronavírus em dezembro na China, foram registrados 105.836 casos de contágio em 98 países e territórios e, destes, 3.595 óbitos, segundo um balanço feito pela AFP com base em fontes oficiais.
Com mais de 5.880 casos e 233 mortes, a Itália é, junto com Irã e Coreia do Sul, um dos países mais afetados fora da China.
As medidas adotadas são similares às aplicadas em Hubei, a província chinesa onde surgiu a doença em dezembro passado e onde 56 milhões de pessoas foram isoladas em quarentena.
Em diversas ocasiões, o diretor-geral da OMS elogiou as drásticas medidas tomadas por Pequim, embora esperasse que fossem "eficazes e de curta duração".
Em 28 de fevereiro, a OMS declarou em um nível "muito elevado" a ameaça desta nova epidemia.