Jornal Estado de Minas

Enquanto Itália se isola, China vê redução de casos de coronavírus

Sessenta milhões de italianos receberam a ordem de ficar em suas casas nesta terça-feira (10), uma medida sem precedentes para tentar frear o avanço do novo coronavírus, que parece dar um alívio à China, onde algumas restrições foram suspensas, que levaram o presidente Xi Jinping a anunciar que a epidemia está "praticamente contida" em seu epicentro - a cidade de Wuhan.



Desde que apareceu, em dezembro, o novo coronavírus contagiou 117.356 pessoas em 107 países e territórios. Entre o total de portadores da doença, 4.252 morreram, segundo o último balanço da AFP, com números oficiais disponíveis nesta terça de manhã. A doença já se aproxima do status de uma pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Fora da China, o número simbólico de mil mortos foi ultrapassado, com vítimas fatais principalmente na Itália (631 óbitos), Irã (291), Coreia do Sul (54) e Espanha (36).

Sem mencionar que, como consequência da epidemia, "escolas foram fechadas em 15 países, afetando 363 milhões" de jovens, alertou a Unesco.

Após a Itália e a República Tcheca, a Grécia anunciou nesta terça o fechamento de todas as suas escolas.

Um dia depois de uma queda espetacular, as bolsas mundiais operavam no azul nesta terça, aliviadas pela recuperação do preço do barril de petróleo e pela esperança do anúncio de medidas fiscais nos Estados Unidos.



- Supermercados vazios -

"Eu fico em casa (...) Toda a Itália será uma área protegida", resumiu o chefe de governo Giuseppe Conte, que decidiu estender a todo o país as medidas que já haviam confinado desde domingo a população do norte da península.

Todos os italianos deverão "evitar os deslocamentos", salvo para ir trabalhar, comprar víveres, ou receber cuidados médicos. Todas os eventos com muitas pessoas também estão proibidos.

Assim, a Itália se torna o primeiro país do mundo a estender a todo o seu território essas medidas draconianas, descritas como "ousadas" pela União Europeia, para tentar conter a epidemia que já matou 631 pessoas e infectou mais de 10 mil.

Desde segunda à noite, as pessoas correm até os supermercados para comprar comida para poderem ficar vários dias em casa.

"É como se tivesse uma guerra", resumia um comerciante.

"Macarrão, molho de tomate, atum e papel higiênico são os produtos mais solicitados", comentou Michele, funcionário de um estabelecimento em Roma.



Após o anúncio do confinamento, a Espanha foi o primeiro país a anunciar a suspensão de todas as conexões aéreas com a Itália até 25 de março.

Várias companhias aéreas, como British Airways, Air France, Ryanair, Easyjet ou Wizz Air, também anunciaram a suspensão de seus voos para a península.

A Eslovênia disse que fechou sua fronteira com o país alpino, depois que a Áustria limitou a entrada em seu território de pessoas da Itália.

O Vaticano decidiu fechar a basílica e a praça de São Pedro ao público até 3 de abril. Horas antes, o papa Francisco pediu aos sacerdotes que tenham "a coragem de sair e ir visitar" os contagiados pelo novo coronavírus.

- Epidemia "praticamente contida" -

A China também confinou um grande número de pessoas para deter a epidemia. Ao todo, 50 milhões de cidadãos tiveram de permanecer em suas casas na província de Hubei, epicentro da Covid-19, mas a Itália foi a primeira a tomar medidas desta magnitude em todo seu território.



Ao contrário do que acontece na Itália, na China, algumas medidas restritivas foram suspensas nesta terça, coincidindo com a visita do presidente Xi Jinping a Wuhan. A cidade é capital da província de Hubei, onde a epidemia surgiu. Xi conversou com doentes e médicos por videoconferência, conforme fotos divulgadas pela imprensa local.

O presidente considerou que "a propagação da epidemia estava praticamente contida", e as autoridades locais anunciaram uma flexibilização parcial do confinamento imposto aos habitantes desta província, isolada desde final de janeiro.

Nesta terça, houve apenas 19 novos casos de contágio no país, um número ínfimo, se comparado com as centenas anunciadas em fevereiro.

Na Europa, além da Itália, a Espanha é um dos países mais afetados, com 1.639 contágios e 36 mortos. Nas três zonas mais afetadas, a região de Madri, La Rioja e dois municípios do País Basco, as aulas foram suspensas por 15 dias.

Além disso, a Liga espanhola anunciou que todas as partidas de futebol vão acontecer a portas fechadas por duas semanas.



Nas Américas, a maioria das infecções está concentrada nos Estados Unidos e no Canadá, com 679 casos e 27 mortes. Na América Latina, existem cem pacientes, principalmente no Brasil (34), Equador (15) e Argentina (12), onde uma pessoa morreu.

No mundo inteiro, os países multiplicam suas medidas para amenizar os contágios.

No Japão, as autoridades poderão confiscar prédios para usá-los como hospitais. Na Eslováquia, missas nas igrejas foram proibidas e, na República Checa, escolas foram fechadas.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) suspendeu todas as suas reuniões de terça-feira a 20 de março, depois que um primeiro caso foi detectado entre seus funcionários em Genebra, na Suíça.

"Estamos apenas no início desta epidemia" na França, alertou o presidente Emmanuel Macron, cujo país registra 33 mortes e 1.784 pessoas infectadas.