Em apenas dois meses, desde o surgimento de um novo coronavírus na China até a segunda-feira que provocou a maior queda das Bolsas desde a crise financeira de 2008, a epidemia de COVID-19 deixou a economia mundial de joelhos.
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Lazer suspenso, medo até no aperto de mão: brasileiros encaram o coronavírus na EuropaO custo do coronavírus: procura por álcool derruba estoques e infla preçosItália anuncia EUR 25 bilhões de ajuda para combater os efeitos do coronavírusA doença se propagou rapidamente e em 9 de janeiro as autoridades chinesas atribuíram os casos a um novo tipo de coronavírus.
Dois dias mais tarde, a China registrou a primeira morte provocada pelo novo coronavírus, que se propagou primeiro aos países asiáticos e pouco depois a todo o mundo, superando 115.000 casos de infecção até o momento.
No fim de janeiro, o regime comunista determinou uma quarentena para a cidade de Wuhan e proibiu a reabertura de centenas de fábricas da região após o recesso do Ano Novo chinês.
Os setores do turismo e dos transportes foram os primeiros a expressar preocupação com a epidemia, já que muitos países adotaram restrições à entrada de cidadãos da China.
Ainda em janeiro os mercados registraram os primeiros choques, de Xangai a Wall Street, e os preços das matérias-primas, que têm na China um mercado enorme, desabaram.
Entre meados de janeiro e o início de fevereiro, os preços do petróleo caíram quase 20%.
Mas isto era apenas o começo.
Cadeias de produção abaladas
O novo coronavírus deixou evidente a dependência da indústria mundial em relação à indústria chinesa.
O mundo descobriu que Wuhan, uma cidade quase desconhecida até então, é um "hub" logístico e centro de produção automotivo para vários grupos internacionais e que um problema em uma de suas fábricas pode ter consequências para várias empresas no mundo.
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Na Alemanha, Coreia do Sul, Japão, Itália, França ou Estados Unidos, os empresários perceberam a dificuldade que enfrentariam para obter peças e componentes produzidos geralmente por sócios chineses.
A montadora francesa Renault, por exemplo, teve que suspender as atividades em uma de suas fábricas na Coreia do Sul, enquanto a gigante americana Apple enfrentou um corte na produção de seus fornecedores.
Os economistas destacaram um grande "choque de oferta" devido ao papel chave da China no comércio mundial e os líderes mundiais começaram a expressar preocupação com as consequências para o comércio e o crescimento, em um contexto complicado devido às tensões comerciais entre China, Estados Unidos e Europa.
"A COVID-19, uma emergência de saúde mundial, interrompeu a atividade econômica na China e pode colocar em perigo a recuperação mundial", advertiu em 23 de fevereiro a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.
Perigo de recessão
Diante da propagação da epidemia, as multinacionais alertam que a crise sanitária prejudicará seus resultados e as Bolsas começam a registrar quedas.
Na última semana de fevereiro, as Bolsas dos Estados Unidos e da Europa perderam 12%, o que não acontecia desde 2008-2009, quando a economia mundial entrou em recessão com a crise financeira.
A palavra recessão começa a aparecer nos comentários de analistas e governantes. E as autoridades começam a atuar para tentar evitar o cenário.
No dia 3 de março, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) reduz de maneira surpreendente as taxas de juros. A China injeta bilhões de dólares no mercado para sustentar sua atividade, enquanto Alemanha, França e Itália anunciam planos de apoio a suas empresas.
No dia 11 de março, o Banco de Inglaterra reduz as taxas de juros de 0,75% a 0,25%.
Os países tentam evitar que à crise de oferta se adicione um choque mundial de demanda, uma forte queda do consumo e dos investimentos, caso outras nações, como a Itália, sejam obrigadas a aplicar drásticas medidas de confinamento.
A princípio, no entanto, como em Los Angeles ou Sydney, as pessoas invadem supermercados com o objetivo de armazenar produtos de primeira necessidade.
Os aviões, porém, viajam quase vazios ou permanecem parados à medida que as companhias cancelam milhares de viagens. A epidemia poderia custar às companhias aéreas até 100 bilhões de dólares, informou em 5 de março a Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA).
Cotação do petróleo desaba
Para piorar o cenário, o preço do petróleo despencou em 9 de março, arrastando a Bolsas, que registraram quedas espetaculares.
Três dias dias antes, Arábia Saudita e Rússia não alcançaram um acordo sobre uma redução da produção para estabilizar o prelo do petróleo.
Irritada com a falta de consenso, a Arábia Saudita inicia uma guerra de preços, que deixou a cotação do barril próxima a 30 dólares, após a baixa mais expressiva em apenas um dia desde a Guerra do Golfo em 1991.
A queda do petróleo provocou pânico nas Bolsas, que na segunda-feira fecharam em queda de até 8% e perderam, em poucas horas, trilhões de dólares de capitalização.
Analistas temem que a queda do petróleo e dos mercados desestabilize os bandos e os grandes fundos de investimento.
Os governos e bancos centrais devem "impedir que uma crise temporária prejudique de forma irremediável as pessoas e empresas com perdas de emprego e falências", declarou Gita Gopinath, economista chefe do FMI.
Em 2008-2009, o G20 (Grupo dos 20 países industrializados e emergentes, que representa 66% da população mundial e 85% do PIB) assumiu o comando da reposta à crise, a ponto de ser chamado de "governo econômico mundial".
Onze anos depois, a situação é consideravelmente diferente com a guerra comercial, o Brexit e a instabilidade política na Europa.
Nada indica que o G20, presidido este ano pela Arábia Saudita, conseguirá desempenhar o mesmo papel que teve na crise de 2008.