Jornal Estado de Minas

Para os peregrinos xiitas no Iraque, o vírus não muda nada

Dezenas de homens e mulheres vestidos de preto avançam, tentando fugir das cercas de arame farpado colocadas pelos militares. Em Bagdá, apesar do toque de recolher imposto para impedir a disseminação do coronavírus, os peregrinos xiitas estão se mobilizando "para visitar o imã Kazem".



Segundo as autoridades da Saúde, apenas 13 pessoas morreram no Iraque devido ao novo coronavírus e 164 foram infectadas no total.

Pelo menos 2.000 testes de detecção foram realizados em um país com 40 milhões de habitantes.

Na tentativa de conter uma possível epidemia, as autoridades de mais da metade das províncias impuseram na noite de terça-feira um toque de recolher de seis dias, que entrou em vigor em Bagdá, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, com 10 milhões de habitantes.

No entanto, o sábado marca o martírio do imã Kazem, uma figura de destaque no islamismo xiita, cujo mausoléu dourado se encontra em Bagdá, às margens do Tigre.

Tradicionalmente, os peregrinos caminham em direção a este imponente complexo para rezar e iniciar um luto que dura vários dias.

Este ano, o grande aiatolá Ali Sistani, figura tutelar no Iraque, já anunciou a proibição de orações coletivas e declarou que a luta contra o coronavírus é um "dever sagrado".

As autoridades fecharam os mausoléus, incluindo o do imã Kazem.

No entanto, ainda existem pessoas irredutíveis nas ruas de Bagdá, capital de um país que passou por quatro décadas de conflitos sucessivos.



Nesta quarta-feira, os soldados tentaram dialogar com eles. "Fazemos isso pela sua saúde", explica um deles a uma idosa resistente. "Ninguém pode nos impedir de visitar nossos imãs: nem o terrorismo, nem a guerra, nem o vírus", respondeu ela, inflexível.

Em outros pontos, 20 homens com bandeiras coloridas também tentavam avançar em meio aos militares que bloqueiam uma rua.

Em Najaf, por outro lado, uma das cidades xiitas sagradas mais importantes do Iraque, o toque de recolher é respeitado.

O imenso mausoléu do imã Alí e sua esplanada estavam extraordinariamente vazios. Os iraquianos, em particular, temem uma epidemia incontrolável em seu país, um dos mais ricos em petróleo do mundo, mas com uma escassez crônica de médicos, medicamentos e hospitais.