"Caipirinha! Vai uma caipirinha?", oferece sorridente Jorge Martins, exibindo uma bandeja de coquetéis de fruta aos poucos turistas que ainda passeam pela praia de Ipanema, um dos cartões-postais mais famosos do Rio de Janeiro.
A partir de sábado, o movimento deverá desaparecer por completo, porque entrará em vigência a proibição de circular nas praias para impedir a propagação do coronavírus.
Um verdadeiro desafio para uma cidade de clima quente que adora a vida ao ar livre e o contato social próximo e que, além dos beijos e abraços, verá restringido também o funcionamento de bares e restaurantes.
Para os trabalhadores informais como Jorge, que não têm nenhuma proteção contra problemas que os impeçam de trabalhar, o governo federal anunciou que concederá um 'vale' de 200 reais por mês enquanto durar a crise, o equivalente a um quinto do salário mínimo no Brasil.
O Ministério da Economia informou que o auxílio será distribuído entre os "trabalhadores informais, microempreendedores individuais e desempregados" de baixa renda, para que possam bancar suas "necessidades básicas de alimentação e higiene".
"O que vou fazer com esse dinheiro? Não dá nem para o café da manhã. E se comprar pão... já era!", afirma Martins, de 55 anos.
O Brasil tem atualmente uma taxa de desemprego de 11,2%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Cerca de 38,3 milhões de pessoas trabalham no mercado informal, o equivalente a cerca de 40% da força de trabalho.
- "Antes pingado do que nada" -
"É aquele negócio, antes pingado do que nada, mas ajuda não é. Trabalhando aqui a gente ganharia isso por dia", conta Zé Joaquim de Assis, sem tirar os olhos dos poucos potenciais clientes que circulam próximo ao seu posto de aluguel de cadeiras e guarda-sol em Cobapacabana.
O Brasil confirmou até o momento 621 casos e 6 mortes em todo o país. A cidade do Rio, onde vivem quase sete milhões de pessoas, é o segundo estado com mais casos: 65 confirmados e 2 mortos.
Olhando o horizonte cortado pelo Morro Dois Irmãos em Ipanema, o britânico Ian Cooper bebe uma cerveja e explica as precauções que ele e seu companheiro de viagem estão tomando contra o vírus: "Lavamos as mãos depois de cada contato e tentamos manter distância das pessoas".
A menos que o voo seja alterado, voltarão para casa no domingo, um dia antes do fechamento das fronteiras determinado pelo governo para impedir a entrada no país de pessoas da Europa e boa parte de Ásia.
Marcilene da Silva, 26, que trabalha em um bar em Copacaba, afirma que "muitos brasileiros acham que é só uma gripe, que não vai chegar tanto aqui como nos outros países. E é assustador porque estamos vendo como está lá fora e o mesmo pode acontecer aqui, temos que nos prevenir", disse à AFP antes de retomar seu trabalho.