Dois primeiros casos de contágio do novo coronavírus foram registrados na Faixa de Gaza, um enclave palestino quase isolado do mundo e superlotado, onde a propagação da epidemia pode levar a uma catástrofe, segundo a ONU.
Sob bloqueio israelense há mais de uma década, a Faixa de Gaza não havia registrado até agora nenhum caso de COVID-19.
Mas neste domingo (22), o ministério local da Saúde anunciou que dois palestinos, de 30 e 40 anos, que voltaram do Paquistão, estavam infectados.
Foram isolados em um centro de quarentena localizado próximo à fronteira com o Egito, garantiu o ministério em comunicado.
O porta-voz do ministério, Ashraf Al Qodra, afirmou que estão estáveis.
A detecção destes primeiros casos em Gaza é uma questão muito preocupante. Segundo uma fonte palestina da segurança, uma delegação da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou neste domingo ao enclave.
Pouco depois do surgimento da epidemia de COVID-19, vários especialistas apontaram o risco que havia em Gaza, devido a sua forte densidade populacional, à pobreza e infraestruturas sanitárias precárias.
Dois milhões de palestinos vivem nesta estreita faixa de terra entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo.
"É ilusório pensar que se pode administrar uma situação dessa em um espaço fechado como este", afirmou recentemente um responsável da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) em Gaza, Matthias Schmale.
A situação pode desencadear "um desastre de proporções gigantescas", alertou.
Se o vírus se propagar, "a situação será comparável à do cruzeiro na costa do Japão", enfatizou, referindo-se ao "Diamond Princess", a bordo do qual o vírus se propagou rapidamente no início de fevereiro, contaminando mais de 700 pessoas dos 3.700 passageiros.
- Mil quartos de isolamento -
Os habitantes de Gaza, no entanto, estão se preparando para a chegada do novo coronavírus, depois que 945 casos e uma morte foram registrados em Israel, do outro lado da fronteira, e 57 na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel, mas separado fisicamente de Gaza.
As aglomerações estão proibidas, as escolas fechadas e milhares de pessoas confinadas em casa, a maioria delas depois de estar no Egito.
Do lado egípcio e depois de anos de um fechamento quase permanente, as autoridades abriram o posto fronteiriço de Rafah em maio de 2018, o único acesso ao mundo de Gaza que não está nas mãos de Israel.
No sul da Faixa de Gaza, próximo à fronteira com o Egito, o Hamas, que controla o enclave desde 2007, constrói um centro com mil quartos de isolamento. Estas instalações se somam ao centro de quarentena onde atualmente os dois infectados estão isolados.
Mas, no momento, o enclave dispõe somente de 60 leitos para cuidados intensivos, e sofre de falta de equipe qualificada, alertou há pouco Gerald Rockenschaub, que dirige o escritório da OMS nos Territórios Palestinos.
Já Israel afirma que faz todo o possível para garantir que os equipamentos médicos cheguem a Gaza e diz ter facilitado o envio de 600 kits de diagnóstico e mil trajes de proteção.
O Estado hebraico impõe um bloqueio ao enclave palestino desde 2007, com a ajuda do Egito, alegando que é o necessário para conter o Hamas, considerado como "terrorista" por Israel e vários países ocidentais. Para os críticos da medida, se trata de um castigo coletivo.